Relato Patrícia - Nascimento da Luiza

NASCIMENTO DA LUIZA (24/07/2008)
Patrícia Merlin – Maringá/ PR


Ela completou um mês... e eu comemoro com o relato do parto... 

Sobre a gestação e o parto. 
Esta gestação foi esperada muito mais do que qualquer outra coisa na minha vida. 
Durante muito tempo eu esperei pela vontade de ter outro filho, por que desde que o Pedro nasceu eu tinha a vontade de ter outro parto. O trabalho de parto dele acabou em uma cesárea desnecessária que por muito tempo assombrou meus pensamentos. 
 quem enxerga o parto e nascimento como eu, pode entender do que estou falando. Para as outras pessoas (a maioria) minha frustração não tem lugar, nem sentido. É só um capricho. 
Depois do nascimento do Pedro, eu questionei tudo o que eu sabia sobre o assunto, eu quis desistir de aconselhar outras mulheres, quis abrir mão de ser doula, quis ser como as pessoas "comuns". Mas felizmente, este universo é maior do que nossos medos e anseios, é maior do que a cultura que se apresenta "lá fora". Então eu me mantive neste caminho. 
Não foi fácil. Foram anos de elaboração. 
Doular voluntariamente foi como um bálsamo. Todas as semanas apoiando outras mulheres no momento do parto, podendo ver com meus próprios olhos que as coisas acontecem sim (quando o sistema permite), o parto é possível e pode ser bom (diferente do que vemos na mídia e das histórias pavorosas que ouvimos), que a informação é o caminho para partos dignos, que manter-se ativa durante o trabalho de parto faz muita diferença e que ter apoio (da equipe, do marido, da família) durante a gestação e principalmente no parto, pode ser fundamental. 
Quando finalmente decidi engravidar, apareceu um acompanhamento particular atrás do outro (como doula). Por algum motivo ainda não era a hora de ela vir... Os planos foram adiados por mais um ano. 
Fizemos como da outra vez, atentos ao período fértil, tentando ajudar a natureza a nos dar uma menina e assim foi. No fim das contas, ela foi concebida justamente no dia em que nós demos menos atenção pra brincadeira...rs 
Esta gestação foi diferente da do Pedro em alguns aspectos. Eu me senti muito mal até 12 semanas e muito cansada também. Tendo um filho em casa não dá pra descansar a qualquer momento. Foi meio complicado no começo, mas eu sempre mantive o pensamento positivo. Gosto de estar grávida! 
Comecei o pré-natal com o GO, mas burlava o sistema dele. Não por desrespeito ou falta de confiança, mas por que não era o tipo de assistência que eu queria. Mesmo assim, achava importante ter um nome como referência, alguém que me conhecia e sabia o que eu queria, caso eu decidisse por ou precisasse de atendimento hospitalar. 
Depois comecei a fazer o pré-natal no hospital universitário também. Lá as consultas são realizadas por enfermeiras e estudantes de enfermagem (hospital escola), os exames são feitos trimestralmente e qualquer exame complementar só é realizado se houver necessidade e não por excesso de zelo. 
Aos poucos fui percebendo que a expectativa do médico em assistir o parto de uma doula, de uma mulher que sabia o suficiente sobre o processo para não aceitar certas condutas, era grande demais. 
Então comecei a preparar o terreno com a enfermeira que fazia meu pré-natal. Eu sabia que ela tinha acompanhado um parto domiciliar poucos meses antes. A mulher em questão me procurou pra saber da realidade de Maringá e estava decidida que teria um parto domiciliar, mesmo sem assistência. Mas na última hora, ela chamou a Deise e ela foi, com a cara e a coragem. 
Pra mim isso foi muito significativo. Ninguém que não estivesse com intenção de mudar, de iniciar um novo caminho na carreira, aceitaria assistir um PD assim, de última hora... 
Propus pra Deise que me acompanhasse no PD, ela não disse nem sim nem não. Mas falou do outro atendimento, de como foi bacana, que ela acreditava no parto e na mulher, etc. 
Até que eu voltasse pra próxima consulta, quase um mês depois, morri de angústia! Queria uma definição... 
Em casa a certeza era definitiva. Nem eu nem Caco tínhamos dúvidas de como a Luiza viria ao mundo. Para ele era importante apenas saber quem estaria comigo, muito mais do que onde ou como ela ia nascer. Caco foi um grande companheiro nesta caminhada, não foi contra o meu desejo, não colocou qualquer obstáculo no meu caminho... Tudo bem que eu não trabalhei isso com ele só quando engravidei, a "aporrinhação" começou logo após o nascimento do Pedro... Mas ele não aceitou simplesmente, ele realmente estava ao meu lado. 
As dúvidas que surgiram serviram pra colocar à prova o meu desejo, meu conhecimento, a minha confiança. Eu precisava saber que queria o parto desta forma não por capricho ou modinha, mas por que era assim que faria sentido, que corresponderia à minha crença, aos meus princípios, à tudo aquilo em que eu acreditava. 
Tive sonhos ruins, questionei a necessidade de enfrentar o sistema, fiquei imaginando a encheção de saco da família e a cara de descrença das pessoas ao redor e concluí que isso tudo era pequeno demais pra ser determinante na minha decisão. 
Mais do que o parto domiciliar e quem seria a assistência, tomava meu pensamento se ela nasceria aqui em Maringá ou se eu teria que me deslocar até São Paulo. Sem definir isso, não dava pra definir quem seria a assistência e vice-versa. 
Meu plano inicial era trazer a Ana Cris de São Paulo, mas sabia que a distância seria um grande empecilho. Foram muitos emails trocados com Socorro, Rebeca e AC, até eu definitivamente abrir mão de ter a AC comigo (prioritariamente) e focar minha energia no atendimento local. 
A confirmação definitiva da enfermeira veio quando eu estava com 31 semanas de gestação. A Deise queria apenas que tivesse outro profissional com ela, pra que ela pudesse cuidar de mim e a outra pessoa da Luiza, caso a gente precisasse de uma atenção mais efetiva no pós-parto imediato. Deixei que ela escolhesse entre uma amiga enfermeira dela, uma pediatra e a AC. Ela ficou de pensar... 
Neste dia saí do HUM com um sorriso de orelha a orelha. Sentei no banco do ônibus, olhando pra fora e rindo, com vontade de chorar. Eu sabia que ia dar certo, sentia no fundo da minha alma que não existia outro caminho pra mim, mas foi muito bom ouvir que ela topava! 
Deste dia em diante eu fiquei muito mais tranqüila. Não me preocupei mais com o parto. O único porém que rondava minha cabeça, era que a Luiza estava posicionada do lado direito do útero. Mas após algumas trocas com as doulas amadas (do Brasil e as Radicais) e "ler" várias e várias vezes que isso não faria a menor diferença, desencanei de vez. 
Tive mais uma consulta com o GO e fiquei desapontada com a conduta dele. Então abri o jogo sobre os meus planos, mas disse que só abriria mão de tê-lo como referência, se ele não quisesse mais me acompanhar. E ele não quis. Disse que ficaria apenas na torcida. Eu teria gostado se fosse com ele, por que é uma pessoa que eu respeito e confio. Queria que ele tivesse entrado nesse caminho comigo. Paciência... 
Em algum ponto no meio disso tudo, a Rebeca, minha doula, deu sinais de que não tinha certeza se conseguiria vir (de Minas) , por que não teria com quem deixar seus filhos. Passei uma noite de cão, pensando e chorando e no fim tive a sensação de que esta dúvida foi como um ponto definitivo. Serviu pra eu ter certeza absoluta de que faria o que fosse preciso pra ter ela comigo, e por conseqüência, conseguir qualquer outra coisa com relação ao parto. Também serviu pra aliviar as tensões, pra me permitir viver um pouco a fragilidade do momento, já que tamanho foi meu empenho pra ajeitar todas as coisas, que não vivi este outro lado da gravidez... 
Nos dois últimos meses, acompanhei dois partos que foram muito inspiradores e me encheram de uma nova esperança, de confiança, de certeza. Aparei um bebê e ajudei o outro a nascer na água. Foram partos lindos! Obrigada Edi e Kelly por permitirem que eu estivesse junto com vocês nestes momentos inesquecíveis! 
A esta altura, o quarto da Luiza estava pronto, faltava colocar as prateleiras na parede e as roupas só precisavam ser lavadas. 
Chegou um momento em que eu só tinha que esperar por ela. Pelos primeiros sinais do meu corpo. E eu o fiz sem nenhuma ansiedade. Pelo contrário, ficava até triste quando pensava que a gestação ia acabar... 
Dia 07/07 tive as primeiras contrações de início de pródromos. Durante a madrugada, doloridas, com intervalo de 40 minutos, durando 10/20 segundos. 
Não fiz nada pra estimular, já que Rebeca só chegaria no domingo. 
Rebeca chegou 12 dias antes de Luiza nascer. Falamos muito sobre tudo, mas muito mais sobre partos: o meu e os das listas e de nossas doulandas e voluntariados. 
Ela cuidou de mim mesmo quando não precisava, dando atenção ao Pedro, lavando a louça ou fazendo nossa comida. Durante a noite, quando chegavam contrações doloridas de ensaio, ela massageava meu pé ou fazia chazinhos. Compramos ervas para escalda pés, fizemos pão de queijo, depilação em casa... Bem divertido...rs 
Uma semana antes do nascimento, no dia em que a gente achava que seria o dia dela, fiquei o dia todo batendo perna, assistimos "Nascendo no Brasil" e "Comadres e Madrinhas". 
Logo depois, as minhas parteiras vieram aqui (trouxeram uma rosa), Caco chegou com alguns materiais comprados (gaze,polvedine e afins), nós demos uma escutadinha na Luiza e elas foram embora. 
Jantamos, tomamos vinho, Rebeca fez um escalda pés cheiroso e um chá de canela, cravo e gengibre delicioso. 
A lua estava cheíssima no céu... Não lembro se foi neste dia que nós três (eu, Caco e Rebeca) ficamos no quintal, cantando rimas ridículas pra lua e morrendo de rir: ó lua, lua ó, faça começar logo esse borogodó, ó lua, cadê você?, faça começar logo esse TP...rs 
Então às 3h da manhã tive que pular da cama, por que estava impossível administrar as contrações deitada. Andei, rebolei, acocorei. Acordei o Caco: 5 em 5 minutos, durando 1 min... 
Fiquei assim até 4:30h, decidi tomar banho. Fiquei lá quase meia hora, a sensação de dor diminuiu bem, mas as contrações não pararam. Saí, Caco dormia. Sentei na cama e tentei relaxar. Acabei cochilando, decidi deitar, tive mais algumas contrações e dormi! Acordei às 7h. 
Rebeca e Pedro dormiam, nem suspeitavam do que tinha acontecido e eu fiquei na expectativa pra ver se começava tudo de novo. Mas não começou... 
Segui com pródromos diários até o dia 22, terça feira, dois dias antes do dia P. Neste dia, madruguei com contrações doloridas e ritmadas, seguiram doloridas e descompassadas, no decorrer das tarefas domésticas seguiram presentes, suportáveis e aleatórias...rs 
Tava aqui limpando o chão e senti um quentinho, líquido, não deu pra saber se era água ou xixi... Lavei quintal (o dia estava lindo, mas fechou e choveu em menos de meia hora), tomei banho, aqueci os pés, deitei e cochilei por 20 minutos acho. 
Almocei, descansei um tico e fui andando até o correio... Nesse tempo, umas 3 contrações doloridas, curtas. Dormi com Pedro por uma hora, quando acordei, senti uma contração dolorida. Ficamos em alerta. Liquido limpo, não saiu mais. Nenhum outro sinal, além de discreta perda de tampão ainda. 
Minhas parteiras estavam "ligadas", embora eu não tenha dito nada disso pra elas... Rebeca achava que elas temiam que nós não as chamássemos... 
Quarta, dia 23... 
Eu tive uma noite danada. Tava com contrações de 10 em 10 minutos, durando um minuto, durante 6 horas.... Claro, diminuíram pra 8, 6, voltaram pra 10... E de repente, parou de um jeito que eu dormi mais de uma hora. Acordei assustada, tipo: cadê meu TP que tava aqui? Levantei, tive mais algumas contrações, deitei e dormi de novo. 
Desde as 6h da manhã eu estava com contrações ritmadas, mas muito curtas. Não saiu mais líquido, bcf 120, perda de muco 'sanguinolento'... Ligamos pra parteira e ela disse que viria aqui de manhã, mas que estava tranquila, por que nós estávamos tb... 
Eu não temia o desenrolar lento do TP. Mas por causa do rompimento da bolsa, que nem tive certeza se era mesmo, tive um pequeno surto, um ataque de insegurança. Todo TP tem seus fantasmas e o meu era a bolsa rota, por que foi assim que o TP do Pedro começou. Escrevi pra Ana Cris e Socorro Moreira, pedindo um apoio moral e levei uma sacudida da Ana, coisa que só quem a gente confia muito pode fazer mesmo! 
E dali em diante tomei o processo pra mim de verdade. Decidi que não ia mais pensar em tempo, bolsa rota e conduta de parteira. Eu estava preocupada que ela tivesse essa limitação de tempo com bolsa rota, que teoricamente completava 15 horas... Mas a verdade é que desde ontem às 20h não senti mais descer liquido nenhum. E ela mesma se convenceu de que não era a bolsa e que eu estava em pródromos e que por isso não tínhamos com o quê nos preocupar. 
Questionei o Caco, ele disse que a gente tinha que ter confiança no que sabe, por que se a gente vacilasse, ela vacilaria. Que tínhamos que agir com ela da mesma forma como agíamos com os GOs das nossas doulandas. Ele disse: cadê oempoderamento de vocês? rs 
E eu perguntei objetivamente se ele confiava que eu fizesse o que achava certo e ele disse que sim... 
Antes do almoço, eu decidi sair pra bater perna. Enquanto Pedro brincava no parquinho de areia, eu andava. Tive mais contrações em uma hora de parquinho do que na manhã toda em casa. Depois saímos pra almoçar e pra resolver uns problemas no Detran... Contrações mais fortes, cheguei a ter 3 em 10 minutos. Sentada no carro!! Que coisa horrenda! 
De volta pra casa, decidi tomar um banho. As contrações não paravam, mas ficavam mais doces no chuveiro. Conversei com a Luiza de novo, disse pra ela ir no tempo dela, que podia ser vários dias, dilatação lenta, desde que ela encontrasse o caminho pra sair e que eu queria mesmo isso, curtir meu TP, cada contração, cada variada... 
Recebi a parteira. BCF ok, não fez toque, demonstrou absoluta tranquilidade e confiança na nossa experiência (eu e Rebeca, enquanto doulas) e ficou combinado que agora ela só viria quando a gente chamasse. A gente apelidou a Deise de "espanta contração" (alusão ao desenho espanta tubarão), por que a dinâmica caia bem quando ela aparecia... Coitada! Tão gente boa... Ficamos encantadas com o atendimento dela e da Samira, muito respeitoso. 
Esperávamos que a noite fosse de novos trabalhos, mas estávamos tranqüilos, se tivéssemos que esperar mais uns dias assim... devagar e sempre. 
Finalmente: TP! 
A noite foi como esperávamos mesmo. Muitas contrações, muita mudança de posição, conversa jogada fora, hora pra rir, hora pra esbravejar... Bola, chuveiro, colo do marido, apoio da doula. Mas ainda era fase latente, que seguiu até a hora do almoço. 
Pedimos comida, por que estávamos envolvidos com o TP, Caco nem foi trabalhar, Pedro tinha ido pra casa de uma amiga. 
Depois de comer, eu quis (ou um dos dois sugeriu) sair pra andar na rua, mas não consegui chegar no portão. Fiquei no quintal contraindo e gemendo... Era impossível fazer aquilo na rua. 
O TP foi tranquilo, apesar de "demorado". Fase ativa mesmo foram umas 7h. Eu me revezava entre chuveiro, cama e Caco. O bicho pegou mesmo depois das 17h, quando as contrações ficaram muito fortes e próximas, sempre no mesmo ponto durante todos esses dias... e eu sem dormir, exausta. 
Às 18h eu tava com 7cm (nossa, nem acreditei quando soube...rs), mas a cada contração eu JÁ SENTIA os puxos, não tinha como não fazer força, por mais que eu tentasse me controlar. E no tempo que durava a "dor", o primeiro um terço desse tempo, fazer força fazia doer mais, e depois fazer força fazia passar, aliviava como se nem fosse comigo. Então eu tinha "medo" de fazer força, mas não conseguia não fazer... Que maluquice. 
Deste ponto pra frente foi tsunâmico (com licença Cátia Chuba), beirando o desespero. Mas NINGUÉM cedeu, nem Caco, nem Rebeca, nem Deise e Samira (as parteiras) e eu IMPLORAVA que alguém fizesse algo pra me ajudar... Como se tivesse algo a ser feito. 
Doía no lugar da contração (um pedaço mínimo da minha barriga, logo abaixo do umbigo, perto da cicatriz), doía no períneo e no ânus. Não tinha posição que aliviasse. De vez em quando eu conseguia relaxar entre uma e outra. 
Mas a transição é igual pra todas as mulheres pelo visto e eu cheguei à conclusão que o pior tipo de parturiente, é a doula...rs 
Parto 
Dilatei e avancei no expulsivo em 2h e meia, fazendo força "fora de hora" e arrancando o resto de colo na marra. 
Minutos antes de ela nascer (coisa de umas 6 contrações), senti a cabeça no canal de parto. Senti mesmo, uma coisa enorme no meio das pernas, abrindo espaço. Coloquei a mão e toquei a cabeça dela ainda lá dentro, meio longe. Pedi pra Deise colocar a mão e dizer se era ela mesmo, e era. Na próxima contração, fiz força com o dedo dentro da vagina e senti a cabeça dela vindo rápido. Eu não queria fazer aquele tanto de força, tinha medo de rasgar tudo... mas como eu disse: era impossível controlar. E sentir ela ganhando espaço, me fazia sentir o contrário: mais vontade de fazer força. 
Depois disso, apesar de sentir doer mais, eu não desistia de fazer força, porque ela tava vindo... Mas eu gritei, nossa, como gritei e senti queimar tudo, tinha certeza que estava me rasgando toda. Tinha vontade de gritar: tá lacerando no clitóóóóris(que é o tipo de laceração mais ferrada que tem), mas no lugar de clitóris saía períneo...rs 
Colocaram um espelho embaixo pra eu ver (eu estava de joelhos no chão, apoiada na cama), quando senti a cabeça dela apontando, inclinei mais pra frente, parei de olhar e fiz mais umas três mega forças. Senti a cabeça passar, depois o ombro e depois o resto do corpo, com um "blupt"... E em seguida um alívio enorme. E logo depois uma ardência imensa. 
O Pedro estava no quarto, mal conseguia ver o que acontecia, por que eu me enfiei num canto "entre a cama e guarda roupa". E ele pedia: deixa eu ver! 
Rebeca não se conteve, animou-se como líder de torcida! Fundamental a amiga doula animadíssima, me colocando onde eu sempre quis estar: presente no meu parto! 
Caco segurava minhas mãos, deitado na cama na minha frente e eu só ouvi ele dizer: Ô meu Deus... e desabar em choro. E ele nem ao menos tinha visto ela, já que eu estava no chão... 
A Deise ficou emocionada, dá pra perceber o tom de voz dela no vídeo... Acho que não esperava ser pega desta forma. 
A Samira aparou Luiza e cuidou muito tranquilamente, falando baixo e pausadamente. 
O ambiente ficou animado. Nada de silêncio respeitoso. E pra mim tudo bem, por que era isso que eu queria: a liberdade de ações e emoções, que só o PD pode dar. 
Passaram ela pra mim pelo meio das pernas, ergui o corpo, limpei o rosto e as secreções que saíram do nariz e boca. Ela estava enrolada em panos, mas o quarto estava aquecido (com aquecedor também). Deitei com ela, toda rosa, quietinha, melecada de mecônio. As parteiras ficaram por ali, esperando pra cortar cordão, sair placenta, etc. O períneo ardia horrores, as contrações pra expulsar a placenta eram fortes, depois que cortaram o cordão (Caco e Pedro juntos), pedi pra tirarem, não esperei sair sozinha. 
Avaliação do períneo: nenhuma laceração, uma ou duas fissurinhas e uma mãe incrédula...rs 
Incrédula e mau humorada! Claro, eu estava feliz por que ela tinha nascido, por que eu tinha enfim conseguido, ninguém se colocou no meu caminho, que máximo! Mas eu só conseguia pensar em como tava ardendo tudo lá embaixo. E em como aquela força descontrolada tomou conta de mim! Eu pensava que ia chorar, viver a maior alegria, ficar em êxtase, sei lá. Mas só conseguia pensar: PQP, o que foi isso??
Parir dói! E no meu caso doeu MUITO (não consigo imaginar o que seja parir sem sentir dor), por que eu queria desesperadamente espremer a Luiza pra fora. Não dá pra pensar em outra forma de explicar os puxos... E eu estava fora de foco, mas ao mesmo tempo consciente, pensando na possibilidade de edemaciar o colo e ela não conseguir sair... Fazia força ou não fazia? Fazia! Não tinha escolha... Mas a dor do parto passa e o que fica é muito bom! 
O Caco pegou a Luiza e foi ligar (chorando) pras pessoas com ela no colo. Depois a Rebeca vestiu a pequena e Pedro tirou a primeira foto segurando a irmã. Rebeca me deu canjica na boca, fui muito mimada! Ela e as parteiras limparam e arrumaram tudo, enquanto eu tomava banho, acho. Nem vi! 
Logo recebi torpedo da Socorro, da Dydy e um telefonema feliz, feliz da Ana Cris! Eu me sentia a tal e em comunhão com todas as mulheres que me inspiraram. 
Pra fechar com chave de ouro, uma pizza! Como boa paulistana... 
Sento no sofá: no SUPER POP Ana Cris, Márcia, Débora, Silvia e Cia, falando sobre parto humanizado, PDS e bebês pélvicos! Nossa, que máximo! Assisti só uma parte e fui dormir tranquila com a Bilula enfiada embaixo do meu braço... 
No dia seguinte já não ardia pra fazer xixi. Mas eu tinha a sensação de que tinha passado algo mais que uma cabeça por ali... Coisa que aliás, deixa Caco abismado ainda... rs 
Eu olho para os cantos da casa e dou risada sozinha, principalmente no chuveiro. Não preciso dizer como esta experiência mexeu comigo, com minha relação com o Caco, e certamente que vai afetar meu trabalho daqui pra frente. 
Disse pro Ric uns dias depois: como tem mulher que escolhe outra coisa?? Acho que nunca vou ter uma resposta que me satisfaça... 
Resumindo: foram muitos dias de pródromos, 2 dias de TP latente, 57h de bolsa rota, 7h de TP ativo, um expulsivo relativamente rápido, nenhuma laceração. E parece que passou muito rápido. Eu faria tudo de novo. 
Agradeço à todas as pessoas que participaram do meu caminho de alguma forma. Desde os primeiros emails na lista Amigas do Parto (por que este desejo começou lá atrás com a minha indignação ao ler um relato da Roselene), passando pelos cursos e encontros, pelas reuniões do Gesta Maringá, pelas discussões na Mães Empoderadas e incentivos das MA's, pelos trabalhos de parto que acompanhei, sobretudo os particulares, por que pude ajudar a escrever estas histórias também. 
Ao Caco, à Rebeca, à Ana Cris e à Socorro... nem tenho palavras. 
À turminha da humanização que orientou, respondeu emails com dúvidas, apoiou minha decisão e minha parteira. E claro, agradeço às minhas parteiras! Espero do fundo do coração, que elas tenham tomado um caminho sem volta!
Contato: patimerlin@gmail.com
Mãe de Pedro, Luiza e Beatriz, também nascida em casa em 2012.

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