Ruptura uterina - FAQ

Perguntas frequentes
Quando mulheres e profissionais de saúde manifestam insegurança ou medo diante do parto normal com cesárea anterior o que está analisado é o risco de ruptura uterina, ou seja, as chances da cicatriz da cesariana anterior se romper com as contrações do trabalho de parto. Abaixo algumas das respostas.

A ruptura ocorre apenas em que já teve uma cesariana anterior?
Não. O útero é um músculo constituído por fibras musculares lisas que formam feixes dispostos em três camadas: interna (longitudinal), média (circular, que contém grande quantidade de vasos sangüíneos, chamada de estrato vascular) e externa (longitudinal).

Durante o trabalho de parto essas fibras se contraem para provocar a dilatação do colo, a porção mais inferior do útero:

Induções químicas com ocitocina ou misoprostol aumentam o risco do músculo uterina mesmo em quem está tendo seu primeiro filho e nunca teve cirurgias uterinas antes. Essa ruptura acontece em cerca de 1% das mulheres.

Outras cicatrizes pélvicas são um risco também?
Sim, cirurgias maiores de retirada de mioma, microcesariana ou outras intervenções que tenham cortado o útero até o miometrio apresentam um certo risco.

Como identificar a ruptura?
A ocorrência da ruptura uterina não pode ser prevista com precisão ou mesmo diagnosticada antes de realmente ocorrer, podendo acontecer durante o parto ou o nascimento. 
Os sinais abaixo estão relacionados com uma ruptura parcial (deiscência) ou total do útero:
◦ Sangramento vaginal
◦ Dor aguda entre as contrações
◦ Contrações que reduzem ou tornam-se menos intensas
◦ Dor ou sensibilidade abdominal incomuns
◦ Sinal de Bandl (anel próximo ou contíguo à cicatriz umbilical que separa o corpo do segmento inferior do útero)
◦ Sinal de Frommel (ligamentos redondos retesados e desviados para frente).
 ◦ Recessão da cabeça do feto (cabeça do bebê está se movendo de volta para dentro do canal do parto)
◦ Abaulamento abaixo do osso púbico (cabeça do bebê que se projeta para fora da cicatriz uterina)
◦ Dor intensa no local da cicatriz anterior
◦ Atonia uterina (perda do tônus ​​muscular do útero)
◦ Taquicardia materna (freqüência cardíaca acelerada) e hipotensão
◦ Batimentos cardíacos do feto apresentam desacelerações variáveis ou bradicardia
◦ Dor nos ombros
◦ Escurecimento da visão
◦ Paralisação do trabalho de parto


Quais os riscos da ruptura para mãe e bebê?
Para a mãe risco de hemorragia e perda do útero.
Para a criança risco de hipóxia, anóxia (falta de oxigenação) que pode lavar a danos cerebrais e, mais raramente, risco de morte.

Após uma ruptura em quanto tempo a criança precisa nascer?
Uma cesariana deve acontecer em no máximo 20 a 30 minutos após a identificação do risco.

Qual o risco de uma ruptura comparada a outras complicações do trabalho de parto?
Médicos especialistas afirmam que o risco de uma ruptura uterina, com uma incisão horizontal de baixa anterior não é maior do que qualquer outra complicação imprevista como sofrimento fetal, hemorragia materna de um descolamento prematuro da placenta ou prolapso do cordão umbilical.

Anel de Bandl

Ilustração da ruptura da cicatriz

Por: Rebeca Celes

Quadro de riscos:

Em trabalho publicado no The New England Journal of Medicine[iv], 2001, Lydon-Rochelle estudou 20.000 casos de PNDC no estado de Washington de 1987 a 1996. Avaliou o risco de RU nos casos de TP espontâneo, parto induzido com prostaglandinas, indução com outros meios com o grupo que partiu para uma cesariana eletiva. A seguir apresentamos uma tabela com os resultados:

Tipo de Parto	Ocorrência de RU
Cesariana eletiva	0,16%
TP espontâneo	0,52%
Indução sem prostaglandinas*	0,77%
Indução com prostaglandinas	2,45%

* lembremos que o uso de Citotec® começou a partir de 96, portanto excluído do estudo.

Uma tabela com resumo de variadas publicações que atenderam parto de mulheres com uma cesariana anterior que entraram em trabalho de parto:

Nome	Casos	PN (%)	Ruptura Ut.
Lydon	20.000	Não avaliado	0,45%
Berkeley	529	313 (59,5)	0,57%
Gibbs	1.192	746 (62,6)
Grupo Suíço	17.613	12.986 (73,7)	0,39%
Califórnia	7.640	6.112 (80)	0,80%
Paul	751	614 (82)	Igual
Portugal	251	161 (64)
Marrocos	130 (2 ces)	65 (50)	3,07%
Dias (Virginia)*	25.700	Não fornecido	0,08%

* todos os partos, não somente com cesariana anterior.
       
Então temos quase 50 mil partos com uma cesaria anterior, excluindo os 25700 que eram aleatórios, com uma chance de RU variando em 0,4 (1 em 250) a 0,8% (1/125), não é muito alta se formos levar em conta números absolutos, mas nos casos que há fatores complicantes (macrossomia fetal, afecções placentárias, diminuição de liquido amniótico, bolsa rota há mais de 18 horas, e outras) deve-se ponderar os benefícios e riscos individualmente. Por outro lado alguns autores previnem que a RU é três vezes mais freqüente nos casos de tentativa de parto normal que nos casos de cesariana eletiva, e quando ocorre a RU, a mortalidade neonatal é 10 vezes maior que os casos que não tem.

Por: Adailton Salvatore Meira -  Médico Ginecologista e Obstetra

Extraído de: Bionascimento