Relato de VBA2C - Bianca e Maria

 Primeira Cesárea

Eu sempre quis ter parto normal, desde pequena quando me dei conta de como os bebês nasciam. Cresci ouvindo a minha mãe contando maravilhas sobre o meu parto, que foi assistido por uma parteira escocesa em uma maternidade alternativa nos EUA. Quando engravidei do meu primeiro filho procurei uma obstetra famosa indicada pela minha cunhada, que tinha fama de "fazer parto normal". Ela me disse que só fazia parto com analgesia e que um trabalho de parto não podia durar mais que 8 horas, mas por acomodação ou ingenuidade eu não questionei nada disso. Quando chegamos a 40 semanas sem sinal de trabalho de parto, ela quis agendar a cesárea pra data em que eu completava 41 semanas. Eu questionei, fiz uma ultra que mostrou que o bebê estava ótimo e ela aceitou esperar mais uns dias. Com 41 semanas, ainda sem sentir nada, perdi o tampão mucoso. Com 41 semanas e 1 dia, acordei de madrugada com contrações leves mas ritmadas. Começaram de 15 em 15 minutos e o intervalo foi diminuindo até que ficaram de 5 em 5 minutos. Perto de meio dia, liguei pra ela que me falou pra almoçar, arrumar as malas da maternidade e ir ao seu consultório. Fomos eu e Roberto (meu marido), ela fez um exame de toque e disse: você está em trabalho de parto, pode ir para a maternidade, eu vou atender mais algumas pacientes e vou pra lá. Eu super ansiosa, ainda com contrações ritmadas mas totalmente suportáveis, acreditei nela. Ligamos para família e fotógrafo, e fomos pra Perinatal. Chegando lá, fomos eu e Roberto pra sala de parto humanizado, eram umas 3 da tarde e eu continuava com contrações, agora com um intervalo um pouco menor. Mas estavam ainda leves, eu fiquei deitada na cama, conversando com meu marido. Lá pelas 7 da noite, a médica chegou, me examinou de novo e disse: o bebê está alto, a dilatação não mudou nada. Como ele está com duas circulares, elas devem estar impedindo ele de encostar o queixo no peito e por isso ele não está conseguindo encaixar. Como ele não encaixa, não faz pressão pra dilatar o colo. Vai ser impossível ele nascer de parto normal, vamos para a cesárea. E aí eu fui, chorando na maca, mas fui. No fundo eu sabia que não fazia sentido mas na hora não tive forças pra fazer outra coisa. Antônio  nasceu ótimo, eu tive muito leite e facilidade pra amamentá-lo, curti muito meu bebê e não fiquei deprimida por causa da cesárea. Mas mesmo assim não me conformei com ela, comecei a pesquisar na internet e encontrei grupos sobre parto humanizado. Conheci o mundo do ativismo pelo parto e descobri que a minha cesárea tinha sido realmente desnecessária.

Segunda cesárea

Quando engravidei do meu segundo filho, já sabia como funcionava o sistema no Brasil e que eu tinha que correr muito atrás pra conseguir o meu tão sonhado parto normal. Conheci pela internet muita gente ligada ao movimento, mas quase ninguém dos grupos de que eu participava era do Rio. Lia muitos relatos de cesáreas desnecessárias feitas pelos únicos médicos humanizados do Rio. Sabia que tinha a opção de ter um parto domiciliar, mas mesmo assim não me sentia preparada, nem realmente desejava parir em casa. Conheci algumas doulas e até fiz acompanhamento com uma delas, mas não me senti
a vontade com nenhuma. Eu estava realmente aflita por não conseguir confiar em ninguém pra me acompanhar, nem doula, nem médico. Decidi por um dos médicos humanizados, que me parecia o mais baseado em evidências científicas, mas quando estava com 25 semanas ele me disse que estaria viajando próximo a data prevista para o parto e por isso eu teria que mudar de médico. Mudei pra outro humanizado, mas diante de tantas dúvidas resolvi também ir atrás de uma parteira (enfermeira obstétrica) e perguntar se ela podia ficar comigo em casa até o trabalho de parto estar bem avançado e então ir para o hospital. Ela topou o esquema e com ela eu finalmente consegui formar um vínculo. No final da minha gravidez tive notícia de várias cesáreas com o médico que acompanharia o meu parto, mas não mudei, achei que estaria garantida por conta da parteira. Aí aconteceu o impensável pra mim. Cheguei a 42 semanas e nada do meu bebê nascer. Fiz uma ultra, estava tudo bem e resolvemos esperar. Mas cada dia se tornou um martírio, quando eu acordava de manhã e me via grávida, era desesperador. E pra completar dessa vez eu tive pródromos, contrações todos os dias à noite que paravam quando eu ia dormir. Com 42 semanas e 4 dias eu comecei a ter contrações mais fortes. A parteira veio pra minha casa e passou a noite comigo. Eu deitava pra dormir, mas levantava a cada contração, de 10 em 10 minutos. De manhã, pedi pra ela fazer um toque e estava só com 2cm. Ela decidiu ir pra casa e falou pra ligar pra dar notícias se alguma coisa mudasse. As contrações pararam e eu resolvi dormir. Acordei com contrações mais fortes e fui para a banheira. Até que eu achei que já estavam muito fortes e contrariando meu plano pedi pro meu marido ligar pra parteira e pro médico e falar que eu iria direto pra maternidade. Fiz isso por ansiedade, com 42 semanas e 5 dias queria que meu filho nascesse naquele dia de qualquer maneira. Chegando lá, o médico fez o toque e disse que eu estava ainda com 2cm. Falou que se não evoluísse rápido teria que ser cesárea porque eu tinha uma cesárea anterior e não podia ficar muitas horas em trabalho de parto. A partir daí se iniciou uma "corrida" com muitas metas de dilatação e toques. A parteira fazia muitas massagens pra eu suportar as dores e o médico fazia os toques e media os batimentos do bebê. Por incrível que pareça, eu fui "cumprindo as metas" e cheguei até 6-7cm de dilatação. Aí estacionei por algumas horas e o médico sugeriu fazer uma analgesia. Fizemos a analgesia e eu pude descansar, parecia que tinha voltado à Terra, vinda de um outro planeta (a famosa "partolândia"). A dilatação evoluiu com a analgesia, cheguei a 9cm e o efeito da analgesia passou. As contrações voltaram com tudo e a parteira e o médico começaram a me sugerir posições pra ajudar o bebê a descer. Até que um toque revelou que eu estava com um edema no colo e o bebê continuava alto. Colocaram gelo, sugeriram posições, o edema diminuiu um pouco, mas os batimentos do bebê começaram a cair durante as contrações e não recuperar totalmente depois. O médico falou que não dava pra esperar mais e lá fui pra segunda cesárea. João nasceu com apgar 6, mas logo subiu pra 8 ele veio pro meu colo e mamou naquela hora. Já passou a noite mamando e mais uma vez eu curti o meu bebê e o amamentei sem dificuldades. Não fiquei deprimida por conta da cesárea e dessa vez fiquei orgulhosa de ter passado por um longo trabalho de parto, que me ensinou muito.
Aprendi que eu estava romanceando muito o parto, que parir não é um mar de rosas, que temos que fazer um sacrifício pelo bebê e pela gente. Pra conseguir temos que ter o objetivo em mente e deixar o corpo trabalhar, sem ansiedade nem expectativas, e no
final vem a recompensa que é o bebê. Algumas mulheres tem prazer com o trabalho de parto em si, mas essa não pode ser a meta principal, é apenas uma possível consequência da entrega, mas não é o mais importante. Refletindo muito, eu conclui que estava querendo ser como a minha mãe, que tinha tido partos fáceis mas eu precisava encontrar o meu próprio caminho e fazer o meu próprio parto.

O parto (VBA2C)

E então eu engravidei pela terceira vez. Dessa vez, diferente das outras eu engravidei sem planejar. E dessa vez já existia aqui no Rio de Janeiro, o grupo Ishtar de apoio ao parto e eu tinha amigas que faziam parte desse grupo. Uma delas, a Maíra, enfermeira obstétrica e uma das coordenadoras do grupo, estava começando a atender alguns partos domiciliares. Assim que engravidei já tinha certeza que queria um parto domiciliar, porque um dos aprendizados que o meu trabalho de parto me trouxe foi de que o hospital não é um ambiente agradável pra estar em trabalho de parto e isso tinha me atrapalhado muito. Eu queria espaço, queria liberdade, queria privacidade, queria tempo e isso eu sabia que não teria no hospital. Além disso, eu queria estar cercada de pessoas que me apoiassem, que acreditassem que eu podia parir e que sorrissem pra mim ao invés de fazer cara de preocupação.

Logo no início da gravidez fiz uma oficina da Claudia Rodrigues, "Gravidez, parto e simbiose". Nessa oficina, perguntada sobre quem seria minha doula respondi sem pensar muito que seria a Ingrid, que estava lá. Lá tive uma crise de choro falando sobre as cesáreas e coloquei muitos fantasmas pra fora. Também fizemos vários exercícios e vivências que me ajudaram a ver que era possível entender os meus sentimentos e concretizar os meus desejos. Durante a gravidez, frequentei o Ishtar e tive muito apoio das minhas amigas "ativistas". Fiz o pré-natal (maravilhoso!) com a Maíra e também com uma médica que seria a backup caso eu precisasse ser transferida para o hospital. Tudo corria bem e eu optei por fazer poucas ultras, fiz somente uma no início pra determinar a idade gestacional e a morfológica do segundo trimestre, quando descobri pra minha enorme felicidade que teria uma menina.

Contei pra minha família que tentaria novamente ter um parto normal, mas omiti que seria domiciliar. Um dia, minha mãe me ligou dizendo que tinha falado com vários médicos (uma era inclusive sua tia) e que eu não podia entrar de jeito nenhum em trabalho de parto, que era um risco enorme. Nesse momento eu tive que peitar minha mãe, dizer que sabia o que eu estava fazendo, que conhecia os riscos de um parto depois de duas cesáreas e também de uma terceira cesárea, e que achava o parto a melhor opção pra mim e pra minha filha. Ela não se convenceu, mas desistiu de tentar me convencer e não falamos mais no assunto.

Com 30 semanas decidi fazer mais uma ultra 3D, como tinha feito dos meninos, pra ver o rostinho da bebê. Fiz com o Baião, o bam-bam-bam das ultras no Rio. Para a minha enorme surpresa, a minha bebê estava sentada e o Baião me disse que seria muito difícil ela virar a essa altura da gestação. Fiquei meio desesperada com essa notícia, sabia que não era verdade, que muitos bebês ainda viravam até em trabalho de parto. Pesquisei e descobri que cerca de 20% dos bebês estão sentados com 30 semanas e menos de 5% estão sentados a termo, então as chances eram grandes de ela ainda virar. Fomos viajar para o EUA e Canadá, eu, Roberto e os meninos. Eu resolvi nem pensar no assunto até eu voltar, mas uma noite eu acordei sentindo a bebê mexendo muito e pensei que ela podia estar virando. Na volta tive uma consulta com a Maíra e ela me garantiu que a bebê já estava com a cabeça pra baixo!

Além da Ingrid, decidi escolhar mais duas amigas "trainees" de doula (Gabi e Renata) para participarem do parto, já que teria meus dois filhos em casa e queria alguém pra cuidar deles,  tirar fotos e filmar. Com 38 semanas minhas amigas, parteira e doulas fizeram um "chá de bençãos" pra mim, com direito a pintura de barriga, escalda-pés, poema e muito carinho. Também fiz uma sensação de fotos grávida, resolvi fazer todos os rituais que podia pra me despedir da gravidez e não ficar nada pendente. Com 39 semanas, recebi o "colo" no Ishtar, um ritual em que todas as mulheres presentes passam energia e boas vibrações para a grávida prestes a parir. Desde as 38/39 semanas comecei a ter pródromos. Muitas vezes no trabalho tinha algumas contrações mais fortes e eu já me imaginava tendo que ir pra casa. Mas logo elas passavam. Como as minhas outras gestações foram prolongadas, eu já imaginava que essa seria também e decidi trabalhar até completar 41 semanas. Chegando a 41 semanas, a Maíra me ofereceu fazer um descolamento de membranas, um tipo de indução leve para o parto que aumenta as chances (a partir de 41 semanas) da mulher conseguir um parto normal. Fizemos o descolamento e também comecei a tomar um remédio fitoterápico que supostamente ajuda a entrar em trabalho de parto. A boa notícia foi que o meu colo estava bem favorável e já com alguma dilatação. Nos dias seguintes acordei à noite com contrações fortes que passavam de manhã.

Com 41 semanas e 4 dias acordei com contrações já ritmadas mas bem espaçadas. A Maíra já tinha combinado de vir pra fazer um novo descolamento e fizemos. Ela também me deu uma homeopatia. Como já estava com contrações, ela resolvei ir embora mas ficar por perto. Já tinha combinado também com a Gabi de ela vir nesse dia fazer uma massagem. Ela chegou aqui de tarde e nessa hora eu já estava com contrações mais fortes, a ponto de não conseguir conversar nem ficar sentada durante uma contração, mas elas ainda estavam bem espaçadas. Ela fez algumas massagens e ficou na minha sala, enquanto eu andava pela casa inteira e pela varanda encontrando posições pra cada contração. Em algum momento ela me sugeriu dar uma volta na rua mas eu não quis, pensei que não me sentiria a vontade tendo essas contrações na rua. Tentei ficar na bola e na banqueta durante as contrações, mas não me ajudaram. O que me ajudou muito foi ficar com as costas encostadas na parede e agachar a cada contração. Nunca tinha visto ninguém fazendo isso, mas eu tinha muita dor na lombar e isso me aliviava, muito mais do que alguém fazendo uma massagem. A Maíra voltou mas a presença dela era tão sutil que eu quase não lembro dela nessa parte do trabalho de parto. Sei que ela media os batimentos mas não tenho registro disso. Fui para o chuveiro e logo chegaram a Ingrid, a Renata e o Roberto com meus dois filhos que vieram da escola. Eu sabia que eles tinham chegado mas não me desconcentrei e perdi completamente a noção do tempo. Fiquei horas no chuveiro e a cada contração eu me agachava segurando na janela. De vez em quando alguém vinha me ver. O Roberto veio tocar violão e eu pedi pra ele tocar uma música do Paulinho da Viola que estava na minha cabeça: "Eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim. Meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim, eu sou assim, assim morrerei um dia, não levarei arrependimentos, nem o peso da hipocrisia". Essa música fazia sentido porque eu tinha que me aceitar, eu tinha que aceitar o meu trabalho de parto, do jeito que fosse, não para agradar os outros, mas por saber que eu estava fazendo o certo. Mais tarde a Ingrid perguntou se eu queria que alguém ficasse lá e eu não sabia o que responder, respondi "tanto faz", e aí eles me deixaram mais um tempo sozinha, pediram pizza e fizeram uma festa na sala enquanto eu continuava no chuveiro.

Lá pelas 10 da noite eu saí do chuveiro e eles resolveram montar a piscina inflável. Decidiram montar no meu quarto porque eu já estava lá e preferiram não me mudar de ambiente (eu tinha imaginado que a piscina ficaria na sala que tem mais espaço). Foi uma mega operação porque pela mangueira eles só conseguiram colocar água bem quente ou bem fria, então tiveram que ajustar a temperatura com panelas. Eu entrei na piscina e realmente tive alívio. Nessa hora os meninos já estavam dormindo e as doulas, parteira e Roberto ficaram ao redor da piscina. Eu me segurava neles e ficava em diversas posições durante as contrações.  Mas a coisa começou a apertar quando entrei na chamada transição, gritava, pedia socorro, falava que não ia aguentar, que aquilo não era normal. Nessa hora o apoio de todos foi importantíssimo. De repente senti a bolsa rompendo e uma sensação boa. Tive uma pausa nas contrações e sabia que o expulsivo estava por começar. Fiquei pensando que o pior já tinha passado. Começaram as contrações do expulsivo e eu fiquei abismada com a força que o meu corpo fazia a cada contração. A Maria começou a coroar e a Maíra me disse pra colocar a mão e sentir os cabelinhos dela. Fiz isso e foi muito bom, principalmente por saber que o nascimento estava próximo. Mas eu tinha necessidade de firmar os meus pés e como a piscina era muito grande e fofa não conseguia firmá-los direito, estando semi-deitada com a barriga pra cima. Então mudei de posição e fiquei em pé na piscina inclinada pra frente, apoiando no meu marido.

E foi nessa posição que a Maria nasceu, às 2:50 da manhã do dia 6/6/12, com 41 semanas e 5 dias de gestação. Por causa da posição, a Maíra teve que pular na piscina pra pegar ela. E aí quando me viro, olho para baixo e vejo o cordão umbilical cortado. Olho para o lado e vejo a Maria no colo da Maíra com cara de preocupada. Ela me pede pra segurar a Maria junto ao meu corpo e pede os equipamentos dela. Como ela ainda não respirava, a Maíra tirou ela de mim e colocou ela na cama pra fazer os procedimentos de reanimação. Eu começo a gritar desesperada: "minha filha morreu!". A Maíra fala pra me tirarem da banheira e me levarem pra outro cômodo, e ficar sentada aguardando a saída da placenta. Os piores pensamentos vieram à minha cabeça, mas felizmente logo começamos a ouvir os miados dela. Nisso o Antônio (meu filho mais velho) acordou, viu a irmã e voltou a dormir. Eu em pouquíssimo tempo pari a placenta, sem nem sentir nada. Fiquei sentada na poltrona com a Maria no colo, vendo como ela era linda e ainda me recuperando do susto. Logo depois chegou a pediatra (Fernanda) e ela percebeu que a Maria estava com a respiração acelerada e por isso não conseguia mamar. Ficamos algumas horas aguardando pra ver se a respiração normalizava. A Fernanda me explicou que o que ela tinha (taquipnéia transitória) não tinha nada a ver com o parto, inclusive é mais comum em bebês nascidos de cesárea eletiva, porque os pulmões ainda não estão preparados pra respirar. Era uma condição benigna que passaria sozinha, mas poderia demorar tanto horas quanto dias pra passar e se demorasse muito seria necessário internar na UTI-neo, já que ela não conseguiria mamar e precisaria receber soro e tomar o meu leite por sonda pra não desidratar. Em algum momento dessas horas de espera, a Maíra me examinou e viu que eu precisava levar 3 pontinhos por causa de uma pequena laceração, foi muito tranquilo. Às 9h da manhã, como a respiração da Maria continuou acelerada, decidimos levá-la para UTI-neo da Perinatal. Antes disso eu tomei um banho, abismada de como o meu corpo podia estar inteiro e um bebê ter nascido de mim. Pra quem já teve cesárea, a recuperação de um parto normal é algo espantoso.

Chegando na Perinatal, a enfermeira que fez a internação fez uma mega entrevista comigo e com a Maíra pra saber como tinha sido o parto. Chegaram à conclusão que o Apgar dela tinha sido 4/8. Ela foi internada e só então ligamos para a família pra avisar do nascimento dela. Avisamos que ela tinha nascido em casa, precisou ir para o hospital, mas estava tudo bem. Para o meu espanto, minha mãe e minha avó ficaram muito felizes com a notícia do parto e nem me recriminaram por ter sido em casa. Logo estavam todos no hospital e foram conhecer a Maria (por sorte naquele dia a visita de avós estava liberada). Também recebi a visita da minha amiga Bianca Balassiano, psicóloga e consultora de amamentação, que conversou comigo e me mostrou como fazer a ordenha do leite. A Maria acabou ficando 4 dias no hospital, mas não teve que fazer nenhum procedimento e só tomou o meu leite através da sonda.

Apesar do susto e dos dias no hospital, eu fiquei muito satisfeita de ter realizado o meu sonho de ter um parto natural. Eu confirmei que posso, sim, parir, como fizeram a minha mãe, minha avó, minha bisavó...E como disse a Gabi, a Maria nasceu no melhor lugar em que poderia nascer, pois tivemos a chance de passar as primeiras horas juntas antes de ela ser internada, o que provavelmente não aconteceria no hospital. Passei alguns meses digerindo o parto e questionei a Maíra, principalmente por ter cortado o cordão tão rápido, pois cortar o cordão cedo é ruim, e ainda mais no caso da Maria (pelo cordão ela receberia oxigênio até começar a respirar). A Maíra concordou comigo, mas o problema foi que o cordão era curto e pela minha posição, dentro da piscina, ela teve que cortar pra poder colocar a bebê no meu colo e começar a reanimação. Enfim, se eu fosse parir novamente pensaria um pouco mais sobre onde o bebê ficaria em caso de precisar ser reanimado (apesar de saber que isso é raríssimo em um parto natural sem intercorrências).

Queria agradecer a todas mulheres que tiveram VBA2C antes de mim, escreveram relatos, e me inspiraram muitíssimo, em especial, Priscila Teixeira, Leiliane Conde, Joana Marini, Gisele Leal, Leila Katz e Gláucia (de Brasília).

E pra finalizar, deixo aqui o poema que a Maribel Barreto escreveu, que resume lindamente esse relato:

Assim nasceu Maria!
Disseram Maria ainda no ventre
e Maria se fez.
Chegou, olhou a vida e tomou um susto!
Sustou-se porque era vida demais pra ser vivida.
Pensou: será?
Será Maria?
Maria será!
Assim nasceu Maria
e é de toda Maria trazer Marias consigo
Maria que é Maria é Eva
é Mãe Divina
Nasceu Maria e trouxe na palma a história do mundo
em seus pés o lótus do amor
em sua testa brilha a estrela matutina
Chegou transformando o ventre
trazendo mais vida pra contar
só porque é Maria
Maria É!

Este texto possui uma licença Creative Commons BY-NC-SA 3.0. Você pode copiar e redistribuir este texto na rede. Porém, pedimos que o nome da autora e o link para o post original sejam informados claramente. Disseminar informação na internet também significa informar a seus leitores quem a produziu.

Comentários

  1. Olá, acabei de descobrir que estou grávida e decidi pelo PNAC, já tive duas cesáreas, uma desnecessária e outra não tão desnecessária, mas quero um parto natural dessa vez. Estou tendo problemas em encontrar médicos que atendam pelo convênio e trabalham com parto humanizado, acredito que vou optar por fazer o pré-natal com minha GO mas terei o acompanhamento de uma doula, se eu puder pagar, é claro! Estamos passando por uma situação financeira complicada no momento, mas não quero abrir mão de ter um parto normal. Apenas o meu marido está me apoiando, temos um médico na família e ele está dizendo que não posso fazer um PN à essa altura do campeonato, mas não vou abrir mão!Quero muito sentir o meu corpo trabalhar!
    PS:quanto tempo após a cesárea você fez o parto natural?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Vanessa,
      O meu parto foi 2 anos e meio após a segunda cesárea. Onde você mora? Acho muito importante buscar um grupo de apoio em primeiro lugar. Bjs.

      Excluir
  2. Emocionante sua história. E estou me sentindo animada e certa daquilo que quero. Eu tbm tenho duas cesarias essa é minha terceira gestação essa quero muito o parto normal. E se Deus quiser e me abençoar eu vou conseguir.

    ResponderExcluir
  3. Olá amei o seu relato
    Eu tenho duas cesarianas ambas desnecessárias
    A primeira sem saber direito fui na onda do meu médico sem motivo nem um para tal coisa simplesmente por que eu já estava com 38 semanas e não tinha sinal de dilatação ele me disse que não seria possível um parto normal
    Na minha segunda gestação quis de qualquer maneira um parto normal mais mesmo assim fui ingênua meu médico tinha marcado cesária mais não fui resolvi ficar em casa até minha bebê da sinal que queria nascer eu estava tendo contrações como se fosse cólicas menstrual sem dor elas estavam vindo de 10 em 10 minutos so que cada contração duravam 2 minutos meu esposo insistiu que eu fosse para o hospital então fomos chegando lá fizeram o toque eu estava com 5 de dilatação mais mesmo assim não sentir dores nem acreditei pensei oba vou conseguir o meu tão sonhado parto normal que nada me levaram para o quarto e me falaram que eu não podia fazer um parto normal por ter uma cesária recente minha tristeza chorei fiquei muito mal com isso cheguei tão perto para ter meu sonho interrompido não quiseram saber minha opinião simplesmente me obrigaram a cesariana

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe seu email correto para respostas!