Gisele, Campinas/ SP
A segunda
cesárea, há dois anos e meio atrás, quando engravidei pela segunda vez. Tinha
convicção de que teria um parto normal. A convicção era tanta de que parto
normal é normal, ou seja, não precisa de nada – ele deve acontecer
naturalmente, que não me informei, não questionei os 5 obstetras
pelos quais passei, não me preparei. Talvez pela fragilidade da primeira
gravidez, essa segunda foi cheia de cuidados, troquei cinco vezes de obstetra,
porque ao meu ver, nenhum deles dava a devida atenção ao “estado especial”
em que me encontrava. Cada dorzinha, ou suspeita de algo não estava bem, corria
para o hospital, a fim de escutar o meu bebê, ou para o consultório do
médico. Me sentia tão fragilizada, tão ameaçada que obviamente,
acabou prevalecendo novamente a decisão maioral do médico, quando em uma
consulta de rotina às 37 semanas, onde eu me queixava de que a barriga estava
dura e dolorida, me mandou ao hospital no dia seguinte pela manhã para realizar
alguns exames. Um dos exames detectou índice de líquido amniótico muito baixo
(ILA = 2,5), o que colocaria meu filho em sofrimento fetal: “seu filho tem que
nascer hoje”, foi o que ouvi. Então perguntei: “Então o senhor vai induzir o
parto?” – e a resposta: “De jeito nenhum. Seu bebê não agüenta. Não
tem líquido para ele minha filha”. Meu mundo caiu, como diria Maysa. Sentei no
corredor frio do hospital e desabei a chorar. Cinco enfermeiras me cercaram e
me disseram que era melhor assim, pois meu bebê era muito grande! Entrei aos
prantos no centro cirúrgico, passei mal a cirurgia inteira. Meu mal-estar só
passou quando ouvi o choro do meu bebê. Mas não pude pegá-lo. Estava com os
braços amarrados, só senti o seu cheirinho, dei um beijo e o levaram.
Pelo menos
desta vez, o alojamento foi conjunto. Meu filho foi para o quarto menos de duas
horas depois de ter nascido, meu leite veio mais facilmente. Consegui amamentar
melhor do que da primeira vez. Mas novamente me sentia angustiada. Impotente. A
única certeza que eu tinha era de que não engravidaria outra vez, pois segundo
diziam, após duas cesáreas eu teria que me submeter a uma nova cesárea. Tive
dores horríveis ainda no hospital, fui medicada com Traumal (logo eu,
que odeio remédios). Sofri horrores com uma dor insuportável na barriga devido
à manobra de Kristeller (não sei se é assim que escreve) durante a
cesárea. A minha recuperação da segunda cesárea foi muito pior do que a
primeira. Talvez porque eu tenha me preparado psicologicamente apenas para o
parto normal, talvez porque eu não tenha aceitado a situação, eu não sei. Eu me
sentia impotente e responsável por aquilo, mas não sabia o por que. Eu só
sei que a única certeza que eu tinha naquele momento, era de que não teria
outro filho jamais. Não tinha condições psicológicas e físicas de encarar uma
nova cesárea. Mas faltava algo. Eu sentia a necessidade de passar pela
experiência do parto. Parecia um belo quebra-cabeça, com uma peça faltando, e
que fazia com que toda a imagem perdesse o sentido. Era assim que eu me sentia.
O relato a
seguir, faz parte do livro que estou escrevendo. O livro começou com uma carta
de boas vindas para Catharina, eportanto o relato é contado PARA ela.
Talvez vocês estranhem referencias ao “seu pai”, ou “seus irmãos”. Mas para não
reescrever o relato, retirei do livro apenas alguns capítulos, os que retratam
o trabalho de parto em
si. O livro que está quase pronto, contemplatoda a minha
busca pelo VBA2C, as dificuldades, as incertezas, o apoio que recebi de tantas
pessoas, dos integrantes do IshitarSorocaba, das listas de discussão na
internet e comunidades do Orkut, de forma que possa servir de estímulo e talvez
orientação para quem já passou por uma ou mais cesáreas e assim como eu, deseja
parir. Porém, é principalmente um instrumento de divulgação para mulheres que
nunca engravidaram, um instrumento de alerta “Não façam a primeira
cesárea”. Porque depois da primeira, tudo fica mais difícil. Quem ainda não tem
filhos, opte e faça valer a sua opção pelo parto normal, de preferência natural.
Entrei em
pródromos no dia 29 de março. Tenho certeza. As contrações começaram a vir
regulares, durante 3 horas e depois pararam. Comecei a perder o tampão mucoso
em maior quantidade no dia 02 de abril, sexta-feira santa. Tive muitas
contrações durante todo o final de semana de páscoa, mas nada delas ficarem
regulares. Estava tensa, precisava entrar em trabalho de parto, pois a GO já
estava preocupada e desconfortável em prosseguir com a gestação devido a todos
os fatores de riscos associados: Duas cesáreas anteriores, diabetes gestacional
e baixa movimentação fetal que tinha acontecido na madrugada de 28 para 29 de
março (posso dizer até ausência de movimentos). Parei de trabalhar devido a
todos os exames que a GO pediu, estava então com 39 semanas completas. Foram
dias difíceis, tensos. A pedido da GO eu ia ao hospital, a cada dois
dias para fazer o cardiotoco e monitorar sua movimentação.
Chegava no hospital e sempre “esquecia” o cartão de pré-Natal. Na
ficha de admissão, eu sempre omitia uma cesárea (dizia que tinha um PN feito há
12 anos e uma cesárea por baixo ILA há 2,5). Sempre colocava uma semana a mais
na data da ultima menstruação, e dizia que estava indo ao hospital, a pedido da
GO que era de outra cidade, porque tinha ligado para ela dizendo que o bebê não
estava com boa movimentação. Acabei ficando mais conhecida no hospital que o
próprio porteiro. Eles achavam estranho eu sempre esquecer o cartão
de pré-natal, mas eu dizia “cabeça de grávida… a gente fica muito esquecida,
não é…”. Sempre me recusava a passar pelo exame de toque, dizia que não sentia
nada, cólica nem contrações. Os plantonistas me olhavam torto, mas respeitavam.
E quando me perguntavam para quando estava agendada a cesárea, eu dizia que
queria parto normal, e eles me olhavam como uma ET. Exceto uma plantonista.
A Dra Adriana. Que graça. Me apoiou, disse que eu devia mesmo
tentar, e que era muito melhor para o bebê e para a mãe… Com ela eu falei a
verdade sobre a diabete gestacional, mas não contei das duas cesáreas. Não era
louca, já estava com quase 41 semanas quando passei com ela. Depois dos exames
perguntei se ela se sentia confortável em prosseguir mais uma semana, se eu
fosse paciente dela. Ela disse que pelos exames sim, mas que seria realmente
necessário monitorar no máximo a cada dois dias. E reforçou é claro: Como você
tem “uma” cesárea não pode receber ocitocina. Assim, reze para começar o TP
espontaneamente. Mal sabia ela que na verdade eu tinha eram duas cesáreas.
Fazia em
casa o mobilograma após as refeições, e isso me deixava muito
mais tranqüila. Você estava bem e respondia bem aos estímulos.
A semana do
dia 05 de abril passou lentamente. Fiz sessões de acupuntura diariamente com a
Carla Dante, indicação da Priscila (minha parteira) aqui em
Sorocaba. Durante as sessões, eu tinha contrações
regulares, que depois sessavam.
Ainda no dia
08 à noite, liguei para Carla Arruda (foi a primeira pessoa com quem conversei
sobre VBA2C. Ela coordena o Ishtar em Sorocaba, criamos uma relação
de amizade). Perguntei se ela poderia vir em casa para fazer minha barriga de
gesso na 6ª feira….Seria a despedida da barriga!
Na sexta,
acordei com contrações doloridas, um pouco mais regulares. Liguei para
Carla acupunturista e perguntei se ela podia vir pra casa para fazer
mais uma sessão, pois sentia que algo estava diferente, parecia que iria
engrenar (ou será que era minha ansiedade)? A Carla veio cedo, fez a sessão e
foi embora pois tinha que trabalhar. Fiquei o dia todo com algumas
contrações, mas nada do TP engrenar. Não estavam fortes, mas pelo menos não
pararam igual parou na semana anterior. Fui caminhar com a Val(nossa
vizinha, que apesar de morrer de medo do parto normal, e ter optado pela
cesárea eletiva quando estava grávida da Júlia, comprou a causa, me apoiou o
tempo todo… passava todo dia em casa me chamando para caminhar… foi muito legal!).
Logo depois
do almoço, a Carla e o Henrique (bebê lindo dela) vieram em casa para
fazermos a barriga de gesso. Foi uma tarde muito agradável, a sua irmãzinha
Beatriz participou, foi muito legal. Barriga moldada, combinamos da Carla
pegar a barriga na 2ª ou 3ª feira para fazer o acabamento.
Enquanto isso iríamos guardá-la em casa…
Sábado, dia
10, foi o primeiro dia em tantos que acordei tranqüila e confiante…
eu tinha certeza que as coisas iriam acontecer. Acordei cedo, logo que fui
tomar café da manhã, vi um torpedinho da Rebeca (doula de BH),
perguntando se estávamos bem e se colocando a disposição para o que fosse
necessário. Ela estava em SP aguardando um
outro arianinho preguiçoso dar o sinal de vida, como ela mesma disse
(risos). Também recebi um torpedinho da
Carla acupunturista e da Lina. Depois do café fui ao Ishitarpara
mais uma reunião. A Priscila faria parte daquela reunião e falaria sobre parto
domiciliar. Seu pai foi trabalhar, levou seus irmãos para casa da sua avó, e a
Carla Arruda (são tantas Carlas, risos) passou em casa para me pegar.
Fomos juntas ao Ishitar. Subi as escadas com o Henrique (bebê da Carla) no
colo, quem sabe assim ajudava a induzir? A reunião foi muito legal, pessoas
novas, uma colega que também tinha tido 2 cesáreas e está grávida
novamente e não sabia que era possível tentar um parto normal após duas
cesáreas. Quando me apresentei, fiz questão de dizer a ela que SIM, é possível!
Ela se sentiu da mesma forma que eu me senti há alguns meses atrás…
enganada.. roubada. Chorou, da mesma forma que eu chorei da
primeira vez que fui aoIshitar. Me senti responsável por aquela
mulher…. não sei explicar, mas tenho a impressão que nossa história
fará toda a diferença para ela, assim como para outras mulheres.
Após a
reunião no Ishitar, onde encontramos várias pessoas queridas, eu me sentia
incrivelmente bem disposta e com energia. Precisávamos comer e pegar seus
irmãos na casa da sua avó. Foi o que fizemos. Fomos para casa, almoçamos e fui
deitar. Seu irmão, depois de tantos dias arredio, aceitou o convite
para dormir comigo depois do almoço. Deitamos na cama da mamãe, abracei e
aconcheguei seu irmãozinho, dormimos abraçadinhos… Que delícia! Deitados de
conchinha, sentindo o cheirinho dele… Ele entregue aos meus braços, como há
dias não fazia.
Era 14:40 quando
me levantei, seu irmão dormindo gostoso e senti algo descendo pela vagina, a
mesma sensação de quando estamos menstruadas. Como já estava perdendo o tampão
há quase 10 dias, achei que fosse o tampão… Mas a calcinha ficou bem molhada.
Mostrei para seu pai, ele perguntou “não é xixi?”. Eu disse que não, que não
tinha cheiro de xixi, e também eu não tinha “soltado”, simplesmente tinha
“descido”. Liguei para a Priscila (parteira), dizendo que achava que a bolsa tinha
rompido, mas que deveria ser uma ruptura alta, porque havia vazado um pouco e
parado. Ela disse que se fosse uma ruptura alta que o TP poderia ainda demorar
muito para começar, pois rupturas altas não fazem o efeito de uma ruptura
baixa. Mas pediu para eu observar e qualquer coisa ligar para ela. Voltei a
deitar, abraçadinha com seu irmão. Quando acordei, sentei na cama e senti um
“ploft” no colchão. Levantei e um pouco de líquido correu pela
minhas pernas. Chamei seu pai para ver. Fiquei tão eufórica que não
conseguia disfarçar! Isso já devia ser umas 4 horas da tarde…. Mandei
torpedo dizendo que tinha certeza que era a bolsa que tinha rompido e que
não parecia ser ruptura alta para Priscila, para a GO, para a Leticia (doula),
para a Rebeca (Parto Nosso) e para a Joana… Ah! A Joana… esqueci
de mencionar… Ela foi a minha inspiração… É uma pediatra de Campinas, que
tinha tido 2 cesáreas e pariu lindamente em casa a Ana Luiza, acompanhada pela
Priscila…
A cada
esforço que eu fazia saía uma quantidade boa de líquido. Tive que colocar uma
fraldinha de pano dobrada entre as pernas, para não ficar pingando pela casa… a
Priscila, a Rebeca e a Leticia sempre me encorajando dizendo “que bom Gi!
Agora você entra em TP…. é só uma questão de tempo!”. Chorei de
emoção… Seu pai me perguntou porque eu estava chorando e eu respondi: “Mesmo
que uma cesárea seja necessária, agora ela já deu o sinal que está pronta para
nascer. Meu corpo está funcionando! Estou feliz!”. Avisei minha
prima Evelim que mora em SP também… o planejamento inicial era levar
seus irmãos para casa dela, assim eles poderiam nos visitar e conhecer você
ainda no hospital.
Coloquei
até uma notinha na lista Parto Nosso (pelo Black Berry), de que a Bolsa tinha
rompido. Novamente, várias mensagens positivas… A melhor coisa que eu fiz, foi
ter entrado para a lista, mesmo no finalzinho… É tão bom ver que tem
pessoas que a gente nem conhece torcendo para que tudo de certo!!!
A GO pediu
para eu fazer um cardiotoco e passar na maternidade de Sorocaba para
ver se era a bolsa mesmo que havia rompido… Não quis ir até lá no sábado, uma
porque não queria que fizessem o exame de toque (eu tinha medo que
contaminasse) e outra porque a Priscila já tinha escutado seu coração
mais cedo e você estava bem. Decidi que faria no domingo caso nada acontecesse
naquele Sábado…
Resolvemos
sair para fazer umas comprinhas, para abastecer a dispensa, pois não havia
quase nada em casa, e se realmente fossemos viajar, precisaríamos deixar a
geladeira abastecida. Saí com a fralda de pano entre as pernas. A Leticia, toda
hora mandava torpedo para saber como estávamos. Já começava a sentir as
contrações mais doloridas, uma dor diferente, mas
aindamuuuuito irregulares. Ela pediu para mantê-la
informada, e a Priscila também.
Voltamos
para casa, guardamos a compra e aí, a coisa começou a pegar… Lá pelas 22 horas,
as contrações começaram a doer para valer, e a ter certa regularidade. Coloquei
outra nota no Parto Nosso, dizendo que provavelmente que estava entrando em
TP. Comecei a tomar o Caulophylum de 20 em 20
minutos conforme o livro de homeopatia sugeria. Fui mandando torpedo para
a Leticia e para a Priscila, até que a Pri me ligou e disse para eu
ligar para Leticia e pedir para que ela viesse para casa. A Leticia já estava a
caminho. Eu não conseguia ficar deitada. As contrações vinham a cada 15 minutos
mais ou menos, mas como a dor era intensa se eu estava deitada, cada vez que
vinha uma contração eu ficava paralisada, não conseguia mudar de posição, o que
tornava a contração mais dolorida ainda…. Pedi ao seu pai para tentar
dormir, porque se caso o TP engrenasse mesmo, ele precisaria dirigir até SP e
precisaria estar bem para isto. Ele preferiu dormir na sala, e me deixou no
quarto. Disse que se eu precisasse usar o banheiro o quarto seria mais
confortável. Então eu fiz uma montanha de almofadas e ficava debruçada sobre
ela… Quando a contração vinha, nesta posição era menos dolorida. A Priscila
havia me dito para tentar descansar o máximo possível, porque iria precisar de
energia quando o TP realmente estivesse na fase ativa… mas como dormir com
aquelas contrações? Descobri que era possível dormir entre as contrações, então
a cada 15 minutos eu acordava com a dor, rebolava, ou agachava, e quando a dor
passava eu voltava a dormir. A Letícia chegou por volta de 01 da manhã.
A Leticia
foi A doula. Ela fez chá de framboesa que a minha amiga Raquel trouxe
dos EUA para mim, com canela e gengibre. Preparou o escalda pés, fez
massagem. Cada vez que eu acordava com contração, com dor, ela fazia massagem
na minha lombar. Me incentivava a agachar, acocorar e chamar por
você. “Venha Catharina….”. Me deu o Caulophylum de 15 em 15
minutos (a cada contração) a noite inteira. Hora ou outra chegava um torpedo da
Priscila pedindo notícias, como estava progredindo. Mandei a Priscila ir dormir
umas 3 vezes por torpedo, mas ela não conseguiu. Aliás, só
consigo lembrar dos detalhes por causa dos torpedos. Às 02 da manhã,
a Priscila encanou que “precisava ouvir a Catharina”… eu nem me toquei, mas ela
estava contando as horas de bolsa rota…Sei que ela apareceu em casa devia
ser umas 04 ou 05 da manhã… Adivinhem? As contrações pararam claro… Como eu
estava sensível às mudanças! A Leticia chegou, as contrações desregularam.
A Pri chegou, as contrações pararam. A Pri foi embora, o
bicho pegou novamente. Amanheceu, tomamos café da manhã e a Leticia foi
caminhar comigo. Caminhamos, mas eu estava bem cansada pela noite mal dormida…
Logo perto da hora do almoço, deixamos seus irmãos na casa da vovó e fomos ao
hospital fazer o cardiotoco que a GO pediu. Durante o exame
tive 2 contrações beeeeeem doloridas. Mas como estavam muito
irregulares, a Leticia foi para casa dela. Disse que a chamaria caso apertassem
de novo. Fomos para casa, almoçamos e resolvemos deixar seus irmãos na
casa da sua avó. Assim ficaria mais a vontade para gritar se fosse preciso,
ficar pelada. Ficaríamos mais tranqüilos e seu pai poderia descansar
também. Lá pelas 2 horas da tarde, com quase 24 horas de bolsa rota, as
contrações começaram a pegar mesmo. Como doíam! Mas ainda estavam bem
irregulares. Tomei banho quente, rebolei na bola que a Leticia tinha deixado…
Arranquei toda a roupa… A Leticia enviou um torpedo, perguntando como eu estava
e eu disse que as contrações estavam apertando. Comecei a sentir frio…
Seu pai mediu minha temperatura e ficou preocupado, pois estava com 37,7 –
justo eu, que NUNCA tive febre na vida – nem com pneumonia, nem com
apêndice infeccionado, com nada! Ele resolveu ligar para a Priscila, que pediu
para avisarmos a GO… Mas eu não quis preocupa-la. Seria mais um fator de risco.
Ela sabia da bolsa rota desde sábado, eu havia mandado torpedo falando do cardiotoco e
silêncio total… nenhum torpedo nenhuma ligação pois ela estava num
curso o dia todo. Por volta de 16:30 a Priscila conseguiu falar com
ela… e me ligou. Meu mundo caiu. Seu pai queria ir para o São Luiz. A Priscila
queria ir para o São Luiz. A GO não queria. Disse com todas as letras que se eu
chegasse no São Luiz fora de TP ativo, que ela me faria uma cesárea
sem hesitar. Disse que ela era visada no São Luiz, que não podia internar uma
paciente com duas cesáreas anteriores, diabete gestacional, 40 semanas
e 5 dias, e quase 30 horas de bolsa rota! Ela me ligou no intervalo
do curso, e repetiu a mesma coisa que disse para a Priscila para mim. Disse que
eu sabia desde o começo que se o trabalho de parto não fluísse naturalmente,
que eu sabia que seria cesárea… Eu tentava dizer para ela que estava fluindo e
ela não me ouvia… Comecei a ficar nervosa, acho que comecei até a gritar… No
meio da discussão tive uma contração muito forte, passei o telefone para o seu
pai… Ela repetiu tudo que tinha me dito para o seu pai. Seu pai tentando
negociar. Sugeriu para ela que fossemos para o São Luiz, e que se nada
acontecesse até as 07 da manha ela podia fazer acesárea. Quando a
contração passou, ele voltou o telefone para mim… Ela começou a repetir as mesmas
coisas, eu disse que ela tinha aceitado o caso, que ela não podia me deixar à
deriva assim… Aí veio o mais absurdo. Ela me disse para internar no hospital de
Sorocaba e que quando o trabalho de parto realmente estivesse ativo, para pedir
alta pedido e ir para SP. Eu disse que ela estava louca, que eu não
ia internar em
Sorocaba. Que ELA era minha medica, e que eu ia internar
no nome dela em
SP. O seu pai disse que eu gritei com ela “quer dizer que
estou sem médica então?”… eu não me lembro disso… sei que disse para ela que
iria desligar e que depois falava com ela… Isso devia ser
umas 5 ou 6 da tarde… Chorei de raiva, de ódio de indignação!
Não tinha chegado até ali, para ouvir que iria ser submetida a uma cesárea!
Embora todo mundo diga que para ter contrações tem que estar “zen”, para
liberar ocitocina, comigo foi exatamente o contrário. Eu estava com tanta raiva
da situação que acho que foi a raiva que desencadeou as contrações… Vieram
muito doloridas… Fui caminhar com a Leticia, nessa altura as contrações estavam muito
fortes, a Priscila já estava em casa, tinha me examinado. O colo estava
anterior e bem mais molinho, o que significava que as contrações estavam
trabalhando o colo. Nada de dilatação ainda, mas bem mais trabalhado. Cada
contração que vinha eu agachava…. Estava difícil não gemer e não fazer
barulho, porque as contrações estavam realmente doendo. Seu pai resolveu ir
buscar seus irmãos e sua avó para ficarem em
casa. A Leticia me ajudou a terminar de arrumar as coisas
para levar ao hospital. Não sei em que momento, a GO ligou para a Priscila
novamente, não sei nem para que… Sei que ela me ouviu urrando de dor, e falou
para a Pri que éramos para ir para São Paulo… Nem acreditei…
Continuamos andando, tomando chá, tomando as homeopatias… E seu pai não chegava
nunca… foi uma eternidade… até a Letícia falou: “Tá com pressa de ir pro
hospital? Quanto mais tempo ficarmos aqui é melhor!” Mas eu tinha medo era de
não conseguir ficar sentada no carro se as contrações piorassem…. E elas
estavam piorando.
Seus irmãos
e sua avó chegaram. Que felicidade ver seus irmãos! Foi uma alegria tão grande
revê-los depois de tantas horas! O Arthur quis colo, estava carinhoso
novamente… A Bia estava com o rostinho preocupado… Expliquei para ela que eles
não iriam, porque eu precisava do banco de trás e precisava que a Leticia fosse
comigo. Disse que se desse alguém iria buscá-los em Sorocaba para nos visitar.
Ela entendeu, ou pelo menos fez que sim… É uma mocinha, e compreendeu que
aquele momento não era para discutir. Chorou quando nos despedimos… Fiquei
morrendo de dó. Acho que ela chorou por não poder participar, não poder ir
junto.
Saímos de
Sorocaba por volta de 21 horas do domingo, dia 11. Ao
sairmos as contrações deram uma espaçada, mas ainda
vinham muuuuito fortes. Eram, realmente, diferentes de tudo o que eu
tinha sentido nas duas ultimas semanas. Tinha certeza que o TP havia começado.
Era só uma questão de tempo para receber você em meus braços. Em uma hora de
viagem, acho que tive mais ou menos umas 05 contrações fortes.
Chegamos em SP, e seu pai e a Letícia estavam com muita fome. Eu na
verdade também, porque tínhamos apenas almoçado e mais nada além de chá.
Seu pai quis parar no Mcdonalds (para meu desespero e da Letícia!), mas como a
Priscila já tinha liberado para comer (ela tinha certeza que era trabalho de
parto), fomos lá, encarar o tal do Mc gordura. Pedi um lanche de frango
grelhado, de forma que minha consciência pesasse menos… mas estava difícil
comer com dor.
Terminamos
de comer e seguimos direto para a maternidade São Luiz. Chegamos lá, o carro
uma zona, paramos na frente da maternidade e fomos recebidos pelo porteiro
todo engravatado, com rádio. Aquele hospital é o mundo de caras. Não existe
nada parecido aqui em
Sorocaba. Pegamos um carrinho (igual aos de aeroporto) e
colocamos todas as malas. Foi quando tive uma contração daquelas. O segurança
ficou olhando para mim espantado. Perguntou se eu queria uma cadeira de rodas,
e eu é claro, disse que não! Tudo o que eu NÃO queria era ficar
sentada! Sentada e deitada a dor era muito pior!
A Leticia
me acompanhou até a recepção do hospital, enquanto seu pai foi levar o carro
até o estacionamento. Enquanto esperava a recepcionista desligar o telefone,
enviei torpedo para a Priscila e para a GO informando que já havíamos chegado.
A GO respondeu, dizendo para abrirmos uma ficha que a enfermeira ligaria para
ela. Isso era um pouco mais de 22 hs. Assim que terminamos a
admissão, a enfermeira nos encaminhou para uma sala para fazer o exame admissional.
Mandou que
eu tirasse a roupa, e colocou um cardiotoco. Eu disse que não queria o
exame de toque, que esperaria pela médica para fazer. Ela ligou para a GO, que
pediu que fizessem o toque. Já não gostei do procedimento aí, mas não
estava afim de ficar brigando. Durante o cardiotoco tive
duas contrações bem fortes e outras mais fracas, irregulares. A Priscila e o
seu pai também chegaram e acompanharam o exame. Após terminar
o cardiotoco, a enfermeira fez o toque, constatou 3 cm de
dilatação, colo médio e anterior. Já tinha melhorado – em casa estava com 1 cm de
dilatação, colo grosso e anterior. Sinal que as contrações estavam surtindo
efeito sobre o colo. Nesta altura eu já estava perdendo bastante líquido
bastante tampão e um pouco de sangue.
Priscila e
Leticia saíram da sala e o seu pai ficou comigo para respondermos o
questionário. Resolvi omitir algumas informações de forma que a GO se sentisse
menos desconfortável com a situação. Omiti as 30 horas de bolsa rota,
omiti 1 cesárea e omiti a diabete gestacional. A única que tinha que saber de
tudo isso era GO, que seria a responsável pela minha internação e pronto. Essas
informações não iam ajudar em nada se eu colocasse na ficha de admissão do
hospital.
Saímos da
sala de exames e ficamos na recepção luxuosa do São Luiz esperando pela sala
de Delivery (sala de parto natural). A cada contração eu agachava na
recepção e rebolava. Acho que o pessoal que estava lá deve ter achado que eu
havia fugido do hospício… Mas eu não estava nem aí… Estava feliz por estar
entrando em TP, embora ainda irregular.
A Leticia
então sugeriu que fossemos caminhar, e a Priscila mostrou onde havia
uma mega escada. Fomos até a escadaria, e subimos até o quinto andar,
de 2 em 2 degraus. A cada 5 minutos vinha uma contração
pior que a outra e eu agachava em cada uma das contrações e rebolava. Segurava
no corrimão da escada e agachava até a contração parar. A Letícia fazia
massagem na minha lombar até melhorar a dor da contração. Descemos
os 5 andares novamente, fui ao banheiro um pouco de sangue vivo
apareceu no absorvente. Bebi um pouco d’água, prendi o cabelo e descansei uns
10 minutos antes de começar a peregrinar pelas escadarias do São Luiz
novamente. Repetimos esse processo mais duas vezes, sob os olhares curiosos e
porque não dizer, contestadores da ascensorista e do segurança. Comecei a ficar
impaciente, com vontade de arrancar a roupa, e a gente ali na recepção do São
Luiz. Demorou demais para liberarem a sala do Delivery, quando finalmente
veio a noticia, comemoramos. Junto com a liberação da sala, chegou a Eneida. A
Eneida é uma acupunturista maravilhosa que trabalha com os médicos
humanizadosem
SP. Acho que a GO havia ligado para ela ir para lá.
Claro que
eu e a Letícia fomos para a LDR (labor delivery room) de escadas.
Entramos na LDR por volta de meia noite. A Eneida começou a “medir” a energia
do lugar e usar umas sementes de Aguaí para equilibrar pontos desfavoráveis…
Acho que foi isso… a partir daqui não tenho muita certeza da ordem cronológica
dos acontecimentos e para ser sincera, nem dos acontecimentos. Fiquei “bem”
impressionada com a sala. Tinha lido diversos relatos de mulheres que ao
chegar no hospital acabam travando. Comigo foi exatamente o oposto.
Estava em um ambiente que eu não conhecia ninguém, que podia gritar, fazer o
que quisesse que ninguém viria bater na minha porta para perguntar o
que estava acontecendo. Pela primeira vez, agradeci ao seu pai por não ter
apoiado o parto domiciliar. O condomínio onde moramos é muito legal, mas é
pequeno e todo mundo acaba se metendo onde não deve. Lá no hospital, me senti
mais a vontade.
Uma
enfermeira veio nos receber, colocou uma pulseira amarela no meu pulso (até
agora não sei pra que serve) e logo tratou de me colocar no cardiotoco.
Lembro que pedi para a Leticia fazer o chá de framboesa da Raquel, e para isso
precisávamos de água quente. A Priscila pediu e logo veio uma bandeja com água
mineral e duas garrafas de água quente para fazer o chá.
O cardiotoco deu
tudo OK, então a Eneida começou a fazer a aplicação das agulhas. Não sei onde
estavam todos, sei que fiquei por uma hora na sala só com a Eneida. Ela
trabalhou todas as cicatrizes. Disse que era importante restabelecer o fluxo de
energia que normalmente com uma cicatriz fica prejudicado. Impressionante que
as contrações começaram a vir ritmadas de 5 em 5 minutos… e como eram
fortes… Era mais ou menos 1 da manhã. Eu estava deitada recebendo a acupuntura,
e era muito difícil ficar deitada. Ela também ministrou alguns florais… Até que
as pessoas começaram a surgir… Leticia e Priscila chegaram paramentadas,
trouxeram chá, biscoito e maçã eu acho. Mas eu não conseguia comer nada… só
bebia muita água. A Eneida tirou as agulhas, devia ser umas 2 horas da manhã…
acho que as contrações estavam acontecendo a cada 4 minutos, não
tenhocerteza, mas eu lembro que a dor era imensa. Eu não conseguia ficar
parada. Cada vez que vinha uma contração eu rebolava, dançava… estava muito
frio naquela madrugada. Lembro que a Leticia ligou o aquecedor perto da mesa de
exame do bebê recém-nascido. Eu me apoiava na prancha da mesa e rebolava. Não
sei como aquela prancha não quebrou.
Eu não me
lembro de muitas coisas, estava na Partolândia… Mas como a Leticia tirou
algumas fotos e fez alguns vídeos, assistindo vem alguns flashs na
minha mente. Eu lembro que a cada contração, seu pai ou a Letícia massageavam
minha lombar. E eu agradecia por meu corpo por estar funcionando e respondendo.
Eu sei que
me sugeriram o chuveiro e a banheira e eu não quis… tive medo do trabalho de
parto parar por causa da água… mas acho que eu devia estar com muita dor, pois
insistiram demais para eu ir para o chuveiro. Lembro que fui, tentei ficar na
bola embaixo do chuveiro. Sei que o seu pai acabou me tirando de lá e começaram
a falar que eu estava me queimando de tão quente que estava a água…
Briguei com a Priscila e com o seu Pai, porque eu estava com dor, e eles
ficavam me atormentando, dizendo que eu estava com as costas vermelha e
queimada por causa da água muito quente.
Lembro que
saí do chuveiro quente, e parece que as contrações ficaram piores, mais fortes.
Eu fui pra bola suíça e cada vez que vinha uma contração eu rebolava,
freneticamente sobre a bola, até a contração passar…
Não sei em
que momento, a tal pulseira amarela começou a me irritar… me
sentia presa, aquela pulseira me apertando… foi uma sensação horrível.
Pedi desesperadamente para tirarem aquilo do meu pulso. Alguém arrumou uma
tesoura e cortou a pulseira… ufa, que alívio… pareciam que estavam tirando uma
algema de mim… É impressionante, como detalhes tão pequenos como esta pulseira,
interferem no momento do parto. O mesmo aconteceu com a camisola… Quando
cheguei na LDR, a enfermeira veio com uma sacola do hospital, com
duas camisolas dentro. Tentaram me fazer vestir a roupa do hospital, mas fiquei
menos de 5 minutos com ela e já arranquei… que tecido estranho, áspero.
Com relação
à roupa, bom esse é um caso a parte. Como estava frio, foi um tal de
tirar e colocar roupa… uma hora me dava calor eu arrancava toda a roupa… outra
hora me dava frio e eu colocava meu hobbie de malha velhinho. Teve um
momento que a Leticia colocou até uma blusa de lã sobre mim (sei por que vi o
vídeo).
Lembro
da Leticia fazendo massagem, pedindo para eu relaxar… mas era difícil
relaxar… cada contração que vinha, parece que meu corpo inteiro contraía junto…
tem algumas coisas que não dá para controlar…. Lembro que quando eu estava
sobre a bola, cansada, exausta, o seu pai sentou na poltrona atrás de
mim. Quando a contração passava eu me jogava para trás no colo
dele ainda sobre a bola… cochilava durante uns dois minutos e depois vinha uma
nova contração. Acho que ficamos assim, tentando descansar por uma hora.
A dor
estava cada vez mais forte, e a Priscila sugeriu a banheira novamente. Eu não
sei exatamente em que momento, mas eu sentia vontade de ir ao banheiro e não
saía nada… a Pri dizia que era você, descendo e fazendo pressão… mas
eu tinha certeza que era vontade de evacuar.
De repente
me deu uma vontade louca de vomitar. Vomitei muita água, acho que toda a água
que eu tinha bebido até ali.
Seu pai me
ajudou a entrar na banheira, como foi difícil entrar… eu já estava com
dificuldades de fazer certos movimentos pelo cansaço. A banheira era alta, e
não tinha onde me apoiar para entrar.
Estava num
estado que parecia de transe. Eu me deixava levar, tinha noção do que estava
acontecendo, mas não conseguia ter ação sobre nada. Lembro que entrei na
banheira e fiquei por lá durante umas 4 contrações… parece que as
contrações deram uma espaçada, não sei quanto tempo durou a imersão na água quentinha.
Santa banheira… consegui relaxar por um tempo. Depois não conseguia mais ficar,
a dor era muito forte eu precisava me mexer, era como se eu me
mexendo a dor fosse embora mais rápido.
E a música
que estava tocando no aparelho de CD colaborava totalmente para um transe…
Parecia uma música indiana, música de ritual ou algo assim. Colocaram também
uma essência não sei se era de calêndula, mas deixou um cheiro muito bom, um
cheiro de natureza na sala… Tiveram alguns momentos que chamei pela sua avó
Sueli…. Pedi que ela me ajudasse, que medesse forças. Agradeci novamente
por tudo o que meu corpo estava passando. É algo tão intenso, que fica
impossível descrever. Só quem já passou pode entender.
Nos
momentos em que a dor era tão forte, a Pri dizia: “Gi,’ uma a menos!
Coragem!”… e eu pensava “cheguei até aqui, nada me fará desisitr!”. Eu
consegui…. falta tão pouco agora! Vem Catharina, vem
filha…. ajuda a mamãe…. falta muito pouco”, era só
isso o que eu pensava, e acho que dizia também.
Sei que
teve um momento que a Pri quis me examinar. Acho que a GO pediu, pois
ela quis porque quis ver a dilatação. A todo o momento ela ouvia o seu
coraçãozinho e tranqüilizava seu pai. Acho que devia ser umas 05 da
manhã e veio a melhor noticia da madrugada inteira: 08
cm de dilatação. Quando a Pri disse: 08
cm !, parece que o mundo
parou…. quase não acreditei! Faltava tão pouco!!! Aquilo me deu
um gás novo. Cada vez que a Pri ouvia o coração, a posição que ela
colocava o sonar estava mais e mais baixa… Você estava descendo… e cada minuto
que passava era um minuto a menos para te receber em meus braços… entre uma
contração e outra, que já estavam quase emendadas, eu tentava descansar,
respirar e relaxar.
Sei que fui
novamente ao chuveiro. Pedi para seu pai entrar comigo. Não sei exatamente que
horas foi isso, mas ele entrou no chuveiro comigo, fez massagem na lombar a
cada contração.
Quando saí
do chuveiro, fui direto para a bola… estava tão cansada que não conseguia mais
agachar a cada contração… também, acho que nessa altura nem precisava mais…
acho que você já tinha descido tudo. Sentei nua, no banquinho de parto
que estava posicionado em frente à cama, onde antes estava a bola, e debrucei
sobre a cama, tentando descansar…
Acho que
foi por volta de umas 6:20 ou 6:30, a GO sugeriu que eu sentasse na
banqueta de parto para que ela pudesse me examinar, para ver com quanto de
dilatação eu estava.
Eu estava
sentindo os primeiros puxos, não conseguia mais ficar sobre a bola… a cada
contração eu tinha que levantar da bola e apoiava no joelho do seu pai, que
permanecia sentado atrás de mim me dando o apoio, massageando, dizendo palavras
para me fortalecer. Ele o tempo todo me lembrava que era isso o que
eu queria, e que agora faltava muito pouco para termos você em nossos braços.
Então, a
Priscila e a Leticia posicionaram a banqueta de parto e uma escadinha atrás
dela para seu pai ficar e eu recostar nele. Sentia uma vontade imensa de
evacuar, e a GO e a Priscila diziam que era você quem estava fazendo pressão e
por isso eu sentia aquela vontade. Mas na verdade, eu realmente precisava
evacuar. E elas disseram para eu fazer o que eu precisasse fazer, pois a força
para evacuar ajudaria você a descer.
Quando a GO
fez o toque, disse que já estava sentindo sua cabecinha. Eu mal acreditei! Mas
eu podia sentir o toque muito raso, quase fora da vagina! Perguntei para elas
se era verdade, se elas não estavam dizendo isso apenas para me animar. A GO
disse: “Coloque a mão. Você vai sentir o cabelinho dela!”. A emoção de colocar
a mão e sentir sua cabecinha, acariciar seu cabelinho eu não consigo descrever.
Foi seu primeiro “cafuné”. Foi a maior emoção que eu senti. Eu já estava no
final do expulsivo! Então a Priscila disse para a GO “A Gisele disse o trabalho
de parto inteiro que queria que eu aparasse a bebê!”. A GO saiu, a Priscila
assumiu a posição, sentou na minha frente com as pernas cruzadas. Colocou o
espelho na frente dela, colocou meus pés sobre os joelhos dela, mandou que eu
segurasse na banqueta de parto e que fizesse força para baixo, quando a
contração viesse. Seu pai, atrás de mim, com os braços passando por baixo
das minhas axilas, me suportando e apoiando o tempo todo! Só que eu não
sei porque, acho que era o êxtase do momento, mas eu já não sentia mais as
contrações… não sentia mais dores. Tive que me concentrar, e quando veio algo
parecido com uma contração, enchi o peito de ar e empurrei. Empurrei para
baixo, com toda a força que eu tinha… mas eu estava muito cansada!
A Pri e a GO me incentivaram: “Isso Gi, está fazendo
certinho. Continua, coragem!” – Mais uma contração e consegui ver sua
cabecinha coroando pelo espelho. Então a Pri disse para eu segurar,
ir devagar. “RespiraGi, não faça a força agora. Respira”. Senti o circulo de
fogo, que tinha lido em tantos relatos. É uma sensação muito diferente de tudo!
Queima, arde e ao mesmo tempo era tão gostoso sentir que você estava
chegando! Foi muito rápido… veio outra contração, a Priscila dizendo para
eu empurrar, fazer força junto com a contração…. uma força bem longa,
o mais longa que eu conseguisse…. e eu consegui. Segurei nas mãos do
seu pai (isso eu sei por que tem o vídeo), e fiz toda a força do mundo. Urrei
para tentar não fazer a força na garganta, para soltar a musculatura e
direcionar a força para o períneo. Fiz uma força longa e sua cabeça saiu. Senti
sua cabecinha saindo, depois senti um ombro e depois o outro…. e você
escorregou inteira para as mãos daPri.
Só vi
quando você escorregou porque, durante a força, eu fechei os olhos e me
concentrei em fazer a melhor força que eu podia. Vi você toda gordinha,
redondinha, nos braços da Pri e te peguei. Peguei você com aquele
cheirinho gostoso de parto, um cheiro que eu já estava sentindo há dois dias…
tão macia, tão gostosa… Tão grande e ao mesmo tempo tão pequena…
A Pri exclamou “Nossa que meninona! Deve pesar uns 4
kg !!!”
Seu pai,
não disse nada. Apenas chorou. A Leticia me deu uns panos para te aquecer, e eu
fiquei ali, sentada, exausta, feliz, te segurando e olhando nos seus olhinhos…
e você olhava nos meus olhos… Foi um momento só nosso, parecia que ninguém mais
além de nós 3 estava ali. Parece que o ambiente ficou sem som,
estávamos numa bolha, eu, você e seu pai. Você nem chorou. Ficou ali, calminha.
Coloquei você no peito, mas você só deu uns beijinhos, umas lambidinhas…
Ficou ali, sentindo o cheirinho da mamãe.
Quando o
cordão parou de pulsar, a Pri falou: “olha Gi, pega o cordão. Já
parou de pulsar, viu?” – então pegou a tesoura, entregou para o seu pai, e
explicou para ele como ele tinha que fazer para cortar o cordão. Seu pai cortou
o cordão todo orgulhoso e feliz! (infelizmente só temos o vídeo, não temos
fotos).
Quando me
dei conta, haviam duas pediatras na sala… acho que já deviam estar lá
mas eu não as tinha visto. Estavam esperando pacientemente eu te
entregar para elas realizarem os procedimentos. A pediatra que a GO tinha
chamado, estava presa no congestionamento de São Paulo, então chamaram as
pediatras de plantão mesmo. Eu disse que não queria nenhuma intervenção em
você, que não queria Vitamina K injetável, que não queria colírio de nitrato de
prata. Elas respeitaram, apenas ouviram seu coraçãozinho e te pesaram.
Lembro
de ter perguntado seu Apgar, e uma delas respondeu: “Eu não sei. Mas
quando cheguei me disseram que foi 09 e 10” .
Acho que ela não gostou muito de ter sido chamada depois que você tinha
nascido. Seu pai acompanhou todo o exame que fizeram em
você. Você pesou nada menos do que 3,900
kg ! Uma meninona! Depois que te examinaram você
ficou aconchegadae quentinha no colinho do papai enquanto a Priscila e a
GO cuidavam da mamãe.
Fui para a
cama, colocaram aqueles apoios de pernas e fiquei lá, na posição mais gostosa
do mundo (risos).
A Priscila
ainda falou: Que beleza esse suporte! Suturar períneo em parto domiciliar
ninguém merece!
Então disse
que eu tive umas laceraçõezinhas bem pequenas, que meu períneo era
ótimo e que ela só ia suturar por causa da forma que lacerou, não pelo tamanho
da laceração. Assim pelo menos não iria arder para fazer xixi (essa Priscila!
Risos)
Você veio
novamente para meu colo, e ficamos ali namorando…
Primeiro
esperaram a expulsão da placenta, e verificaram que a placenta estava
inteirinha.
Tive uma
sensação muito ruim logo depois que a Pri terminou de suturar a
laceração do períneo… Deve ter sido apenas o cansaço, mas eu tinha a nítida
impressão que ia desmaiar. Conseguia ouvir tudo o que falavam, mas não
conseguia nem falar nem abrir os olhos. Minha pressão estava baixa, talvez pelo
cansaço, falta de alimentação e pelo sangue que perdi. Mas a GO logo colocou um
soro com alguma coisa e eu melhorei. Assim que melhorei já quis sentar, e pegar
você para amamentá-la. Você também precisava repor as energias!!! Nós duas
(aliás, todos ali) estávamos exaustas. Você mamou como quem já sabia mamar…
mamou com gosto… e eu tinha bastante colostro para te dar.
Chegou, deu
uma olhadinha em você, nos tranqüilizou, disse que você não tinha nenhuma
característica de bebê de mãe com diabete gestacional (exceto o peso, mas como
seus irmãos também nasceram grandes, essa hipótese estava descartada).
Seucapurro foi de 39 + 2. Então, carinhosamente, ela colocou uma roupinha
em você, de forma a evitar os procedimentos do berçário central.
Ah.. o berçário central do São Luiz… É tudo lindo, perfeito, mas eu
não queria que te levassem para lá…. Infelizmente nem todas as regras e
protocolos são possíveis de serem quebrados… e esse, acho que foi o
único que eu não consegui burlar.
Então,
depois que a Ana Paula te examinou e te trocou, prescreveu alojamento conjunto,
nada de intervenções no berçário central, e retorno à mãe o quanto antes para
amamentação. Retirou a prescrição da pediatra de plantão para fazer o
acompanhamento da glicemia (procedimento de rotina da maternidade, para bebês
que nascem acima de 3,700), graças a Deus! Imagina, ficarem te
furando de hora em hora?
Fomos para
o quarto, para almoçar e aguardar sua chegada. Passei o dia bastante cansada,
mal conseguia dar 3 passos, que ficava muuuuito cansada.
Achei que fosse pelas 2 noites sem dormir e por toda energia
desprendida no trabalho de parto. Mas fiquei sabendo depois que estava com
anemia, e por isso o cansaço.
Coloquei
uma nota na lista Parto Nosso (via celular), dizendo que você tinha nascido de
parto natural, e que estávamos bem. Disse que a Priscila e a Leticia me
acompanharam o tempo todo e que a GO chegou apenas para o expulsivo. Para que
eu fui fazer isso? A GO me ligou no inicio da noite, dizendo que estava
magoadíssima com aquela nota, pois tudo que ela fez ou falou foi por
preocupação. Que desde o inicio ela torceu muito para que eu tivesse o parto do
jeito que eu queria. E pediu desculpas se ela não tinha acompanhado o trabalho
de parto, mas que ela estava descansando para poder acompanhar o trabalho de
parto durante o dia. Enfim, desligou dizendo que estava transferindo meu caso
para o plantonista do hospital, e que dali para frente eu seria acompanhada por
ele. Que a minha alta também seria dada pelo plantonista, e que eu não
precisaria pagar nada para ela. Eu não ia colocar nada disso aqui, mas choquei.
Hoje passados dez dias de tudo isso, entendo a posição dela, embora ainda não concorde
com a conduta. Principalmente porque eu estou com uma anemia considerável que
precisa de acompanhamento. Porque hoje sei que embora as coisas não tenham
saído da forma como eu gostaria, ela foi a GO quem eu escolhi para me
acompanhar, e sei também que devido a todos os fatores de riscos associados,
talvez nenhum outro GO tivesse esperado tanto para que eu entrasse em trabalho
de parto. Meu desejo sincero, é que um dia possamos aparar as
arestas que ficaram, pois tenho certeza que assim como eu, ela também
aprendeu muito com toda essa história.
E aqui,
Catharina, começa a sua história fora da barriga. Uma história linda que
vamos escrever juntas. Talvez seja o fim da “História da Barriga”, mas é a
história que temos obrigação de divulgar para o mundo. Divulgar que nós mulheres
podemos parir, independente do que nos digam. Basta querermos. Precisamos
divulgar para o mundo que existem profissionais humanizados, comprometidos com
a causa da humanização do parto e do nascimento. Que existem milhões de possibilidades
além daquelas que nos são apresentadas, às vezes por medo, por excesso de
cuidado. Muitas vezes por comodismo ou apenas por ignorar os fatos e dados mais
recentes.
Aqui começa
uma nova história. A história da mamãe Gisele, mamífera, mulher, nova mãe. Nova
porque vivenciou no seu parto, o parto roubado dos seus irmãos. Nova mulher,
porque hoje entende a magnitude de seu próprio corpo. E nova mamífera, porque
só o parto natural despertou em mim esse poder maravilhoso de
ser mamífera, fêmea.
Busquei e
gestei o sonho de parir
Gestei e
consegui parir
Mesmo
contra todas as indicações, mesmo contra todos os protocolos que quebrei…
Pari
em mim segurança, confiança e força
Pari e
renasci uma nova mulher
Pari
Catharina, que de casta e pura além do nome, traz a pureza da confiança que
tenho na natureza feminina, no meu corpo, tão perfeitamente projetado por Deus
para fazer o corpo feminino, a mulher trazer vida à Terra.
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