RELATOS DE
PARTO - GLÁUCIA
Goiânia/ GO
MARIA CLARA
- 2006
Casei em
Junho/2004. Era autônoma então decidi estudar pra concurso pra poder engravidar
e ter
direito à
licença maternidade. Em 2005 passei no concurso, fiz o curso de formação. Em
Dezembro/2005 decidi parar
de tomar o anticoncepcional. A menstruação não veio mais e também
não engravidei
nos primeiros meses. Então em Março/2006 fui no ginecologista (GO) e
fiz exames
pré-gestacionais.
Tudo normal, apenas a ecografia acusou ovários policísticos, o que eu já sabia.
Em
vista disso,
o GO disse que eu poderia demorar um pouquinho pra engravidar, que até 2 anos
era
normal.
Em Março/06
mesmo eu engravidei, mas não descobri logo... Pensava que iria demorar pra
engravidar por
causa dos cistos.
Em Abril
foi aniversário do meu esposo, tomei todas, nos dias seguintes passei mal com
vômitos e
azia. Fui
no Gastro, que não perguntou nada sobre gravidez, não pediu exame algum, e
passou
remédios para
tratar gastrite ou refluxo.
Em Maio
senti minha barriga inchada, cheia de gases. Resolvi fazer o teste de gravidez
de farmácia.
Deu
negativo.
Então fui
numa nutricionista e também comecei a malhar forte pra perder a barriguinha,
de segunda
a sábado
na academia e domingo eu corria na rua. Contratei
até personal trainer.
Não via
resultados e meu apetite só aumentava. Decidi tomar remédio pra emagrecer que
minha
sobrinha tomava,
mas me deu dor-de-cabeça, então parei.
Em Junho/06
percebi que se não estivesse grávida, estaria com alguma doença. Então decidi
voltar
no GO
e fazer o BHCG. O exame deu positivo (88 mil).
Na semana
seguinte eu fiz a ultra. O médico que fez o exame se espantou: “Nossa, tem
um bebê
grandão aqui!” Foi
uma surpresa pra mim também, eu já estava grávida de 15 semanas.
Comecei a
me preparar para o parto por meio de pesquisas na Internet, inscrição em
listas de
discussão,
leitura de livros como o “Parto Ativo”, fazia exercícios moderados,
alongamentos.
Depois de
ir em 3 médicos cesaristas, encontrei um GO humanizado que me deu
todo apoio para o
parto normal.
Preparei o enxoval com rapidez. Às 30 semanas, já estava com o quarto todo
mobiliado e
pintado, roupinhas lavadas, bolsas de maternidade arrumadas. Parecia que eu
adivinhava que
Maria Clara poderia nascer antes do tempo.
Com 29
semanas, Maria Clara ficou cefálica (de cabeça para baixo) e eu senti minha
barriga baixar.
Com 32
semanas, após uma relação com meu esposo, tive sangramento e, na sequência, comecei a
sentir as
contrações. Liguei pro meu GO que disse para eu tomar Buscopan, repousar e
voltar a ligar
em 1
hora. As contrações ficaram ritimadas de 5 em 5 minutos.
Então ele pediu para que eu fosse na
emergência de
algum hospital. Chegando no hospital particular mais próximo da minha
residência,
a médica
constatou que eu estava em trabalho de parto e com 3 cm de dilatação. Por causa
da idade
gestacional,
aplicaram uma injeção para amadurecer o pulmão da bebê.
Meu plano
de saúde só vencia carência para o parto após 10 dias... Então tive que
ir pro hospital que
aceitava o
convênio do meu esposo, do qual eu era dependente.
Na
internação o diagnóstico, 5 cm de dilatação. Nas contrações eu ficava
de 4, pois era a posição
que mais
me aliviava as dores.
Meu GO
decidiu me indicar Aerolin via soro para segurar o bebê. As
contrações pararam. Fiquei
internada a
semana toda. Fui para casa no final de semana, tomando Aerolin em
comprimido.
Na 2ª
feira, dia 30/10/2006, voltei para o hospital em trabalho de parto ativo. 7 cm
de dilatação. Me
levaram de
ambulância para um outro hospital pra fazer uma ultrassonografia. Eu já sentia
muita
dor e
vomitava horrores. A ultra diagnosticou sofrimento fetal.
Meu GO
decretou a cesárea de emergência. Naquele momento, eu nem pensei em ligar
pra doula
que me
acompanharia no parto, já que ia ser cesárea mesmo.
O motivo da
cesárea eu só fui descobrir 3 anos depois, quando resolvi solicitar
meu prontuário e o
laudo da
tal ecografia que havia ficado no hospital: “diástole reversa”.
Foi preciso
reanimar Maria Clara com oxigênio assim que ela nasceu.
Me
trouxeram por alguns segundos para que eu a pudesse ver. Não pude tocá-la,
meus braços
estavam amarrados
– Primeiro grande trauma: ninguém me falou que meus braços precisariam ficar
amarrados na
cesárea. Não pude tocar minha cria... Eu literalmente implorei
: “encosta ela em
mim”. Então
a enfermeira a aproximou do meu rosto quando eu pude dizer: “mamãe te ama
filha”.
E a levaram
para a UTI-Neonatal.
Por conta
da recuperação da cesárea e dos horários de visita na UTI, só pude ver
minha filha
novamente no
dia seguinte. Foi um choque vê-la ligada a aparelhos, com
sonda nasogástrica... A
toquei dentro
da encubadora. Foi um momento forte.
No dia
seguinte, recebi alta, mas Maria Clara não. Então, chorei muito porque estava
indo para casa
sem ao
menos ter pego minha filha no colo. A pediatra se compadeceu da situação e
permitiu que
eu pegasse
Maria Clara no colo por alguns instantes, com todos os cuidados de higiene
exigidos
como touca
e máscara.
Ela era tão
pequenininha. Mas só precisou ficar na UTI porque tinha sido diagnosticada uma
infecção inespecífica.
Perguntaram se eu tinha tido alguma infecção na gravidez, eu respondi que
não. Bom,
talvez esse tenha sido o motivo do parto prematuro, uma infecção urinária
silenciosa,
mas isso
eu nunca vou saber com certeza, não fizeram exame algum em mim na ocasião.
Infelizmente
eu não tive acompanhamento adequado no pós-parto. Acabei não ordenhando direito
o
leite pra
minha bebê. E com toda aquela situação e a depressão que tive, meu leite foi
secando cada
dia mais.
Apenas no
7º dia de vida de Maria Clara ela mamou no meu peito. E no 10º dia recebeu alta
da UTI
para ir
pro quarto. Com 15 dias fomos embora pra casa.
A
amamentação foi muito difícil, ela perdeu peso no primeiro mês. Tive ajuda do
Banco de Leite e
pude complementar
com leite materno via sondinha (relactação). Depois consegui algumas
doadoras e
o BL apenas pasteurizava para mim. Isso até o 3º mês de Maria Clara, quando
comecei a
introduzir NAN,
depois, no 5º mês as papinhas.
Com tudo
isso, ainda consegui amamentá-la até 1 ano e 9 meses, quando eu mesma
resolvi
desmamá-la
por não gostar que ela ficasse puxando minha roupa em público. Por ela,
acho que
estaria mamando
até hoje.
GIOVANA –
2010
Quando
Maria Clara estava com 2 anos, em Março/09, comecei a utilizar os
métodos naturais de
contracepção –
Método de Ovulação Billings aliado com o Método da Temperatura. Foi um sucesso
para mim.
Aprendi a conhecer meu corpo. Eu sabia exatamente o dia que estava fértil pela
observação do
muco e pela mudança de temperatura. Eu media minha temperatura toda noite antes
de dormir
com um termômetro digital feminino chamado Mini-Sophia, importado do Japão.
Quando
decidimos engravidar novamente, usamos o método ao contrário, ou
melhor, tivemos
relação no
dia fértil e dias próximos a ele. Antes
mesmo da menstrução atrasar, o Mini-Sophia já
me indicava
que eu estava grávida (talvez pelo aumento da temperatura por muitos dias) e
dizia que
minha DPP
era 02/06/10. Incrível, a diferença foi de apenas 1 dia.
Dessa vez
descobri minha gravidez cedo e pude curtir desde o início o processo de gestar.
Também
me preparei
para o parto normal. Dessa vez pesquisei muito mais. E não foi fácil encontrar
um GO
do convênio
que topasse o parto normal após cesárea. Na ocasião eu não estava com condições
financeiras de
bancar um médico particular, pois estávamos ampliando a casa para receber mais
uma filha.
Na
preparação para o parto normal, percebi que só teria o parto que eu desejava,
com um
nascimento feliz
para Giovana, em minha casa, ou seja, um parto natural domiciliar. Encontrei uma
doula e
uma parteira.
Mas
aconteceu algo inesperado. Giovana permaneceu pélvica (sentada). Então a partir
das 33
semanas,
comecei a fazer de tudo o que me falavam na tentativa de fazê-la virar:
acupuntura com
moxabustão,
homeopatia, exercícios como ponte, plantar bananeira, andar de quatro pela
casa, etc.,
cambalhotas na
piscina, terapia com psicóloga, compressas quentes, massagens circulares, rezas,
conversas com
a bebê, etc. Nada deu certo. Ela ficou pélvica até o último instante...
Parteira e
GO não toparam o parto pélvico. Também não aceitaram meu pedido de fazer a
Versão
Cefálica
Externa (manobra por fora da barriga na tentativa de virar a bebê).
O GO disse
que não tinha o fórceps adequado para resolver uma cabeça derradeira, além
disso não
tinha muita
experiência com partos pélvicos, que os dois partos pélvicos que ele havia
acompanhado foram
os momentos mais angustiantes da vida dela, que o tempo não passava nunca.
Enfim, lá
estava eu com 39 semanas, vendo meu sonho do Parto Domiciliar ir pelo ralo.
Chorei
horrores.
Por orientação da psicóloga eu escrevi uma carta de despedida do PD e comecei a
me
preparar para
o parto hospitalar.
Na consulta
com 39 semanas e 5 dias, o médico sugeriu a cesárea eletiva. Disse
que na manhã
seguinte estaria
tranquilo no hospital, que se eu quisesse poderíamos marcar.
Eu disse
que precisava de mais um dia para me preparar psicologicamente para isso, que
não era o
que eu
queria, pedi para marcar para dois dias depois, 02/06/2010. Conversamos sobre o
Plano de
Parto, com
a idéia da cesárea mesmo, e ficou tudo combinado.
Mas, o
inesperado aconteceu. Entrei em trabalho de parto ainda aquela noite.
Durante a madrugada
tive diarréia.
Como eu estava em pródromos (com contrações
dolorosas mas irregulares) já há duas
semanas,
não liguei para as contrações. De manhã, eu acordei meu esposo e pedi para
que ele
fizesse massagem
nas minhas costas. E que cronometrasse as contrações, porque eu estava sem
paciência pra
fazer isso. Eu estava com contrações de 3 em 3 minutos.
Liguei pro médico que
orientou ir
pro hospital urgentemente. Tomei um banho, deixamos Maria Clara na casa dos
avós e
fomos.
No caminho,
uma surpresa ingrata: o trânsito estava completamente parado desde a
saída de
Sobradinho
em direção ao Plano Piloto. Eu fiquei tensa. Havia sonhado que eu paria Giovana
num
parto pélvico
no banco de trás do carro, de joelhos. Além disso eu tinha medo de
prolapso de
cordão (complicação
na qual o cordão umbilical sai antes do bebê), por ela estar pélvica...
Então
Cláudio rapidamente ligou para amigos da Polícia Militar que prontamente
enviaram
batedores de
moto para nos escoltar até o hospital. Foram abrindo caminho pra gente passar
entre os
carros. Nem
sei descrever a bagunça de sentimentos naquele momento.
As dores
apertaram e eu comecei a vomitar várias vezes dentro carro.
No meio do
caminho liguei pro GO e perguntei se ele não poderia vir pra um hospital mais
próximo.
Ele pediu que eu mantivesse a calma, que ia dar tudo certo, e que ele estava
preparado me
esperando no
hospital combinado. Chegamos rápido.
Na
internação ele respirou aliviado, apenas 5 cm de dilatação. Então
seguimos pra cesárea.
Dessa vez
já conversamos antecipadamente com o anestesista que deixou meus braços
desamarrados.
O GO não abriu mão do campo, então não pude ver quando ela nasceu.
Inesperamente,
tudo o que havíamos combinado não foi cumprido. Ao invés de colocar a bebê em
mim quando
ela nasceu, o GO a entregou para a pediatra que a levou pra sala de cuidados.
Depois
ele me
disse que foi pq Giovana havia feito cocô, já fora da minha barriga,
mas enfim, a levaram
para limpar.
Um simples cocô causou novo trauma em mim... Mais uma vez me tiraram o direito
de
tocar minha
cria na hora do nascimento. Meu esposo até pediu, depois que ela já estava
limpa, para
a levarem
pra mim, mas recebeu um não, com a desculpa de que eram normas do hospital.
Ao menos,
na sala de recuperação, pude tê-la em meus braços, ainda na primeira hora de
vida. A
coloquei no
meu seio e ela mamou, tão espertinha! Foi um misto de sorriso e lágrimas. Aquele
momento foi
restaurador para mim.
E a
amamentação foi um sucesso! Pude amamentar exclusivamente até 5 meses
e meio quando
comecei a
introduzir papinha de sal e me preparar para o retorno ao trabalho. Como era
comilona e
introduzi mamadeira,
Giovana foi desmamando aos poucos até largar o peito aos 9 meses. Por ter
sido gradual,
consegui lidar bem com o desmame.
Mas... ainda tinha
ficado aquele pontinho de interrogação... Sempre que via uma cena de bebê
nascendo e
indo todo melecadinho para o colo da mãe, eu chorava. Levava essa
ferida no meu
coração.
JOÃO PEDRO
– 2011
Eu tinha
muita dúvida se queria ter um terceiro filho. Mais por causa da rotina, do
dia-a-dia.
Também por
fatores estéticos; eu pensava em fazer uma cirurgia de mini-abdominoplastia pra
melhorar minha
autoestima. Ao mesmo tempo, eu não queria tomar anticoncepcional. Tentei usar o
método natural.
Mas, não tive orientação adequada para o uso do método na fase da amamentação,
que é
um pouco diferente.
Menstruei
apenas uma vez. E engravidei. 9 meses (9 luas) após o parto.
A
descoberta da gravidez de João Pedro foi um misto de surpresa e alegria para
nós. Estávamos
abertos à
vida, porém, não planejávamos ter um filho tão perto um do outro. Ao mesmo
tempo vi
como uma
resposta de Deus. Se eu demorasse para ter outro filho, provavelmente
não teria mais
nenhum.
Estávamos
em João Pessoa quando comecei a sentir enjoos. Pensei que fosse uma infecção
alimentar.
Mas como não passava, e meu ciclo ainda não estava regular após o parto, na
volta da
viagem, eu
resolvi fazer o exame de sangue pra tirar a dúvida.
O BHCG deu
positivo. Era aniversário do Cláudio, 19/04/2011, havíamos marcado um
terço entre
familiares e
amigos. Neste mesmo dia, demos a notícia a todos. Consagrei a minha gestação a
Nossa
Senhora.
A gravidez
transcorreu tranquila. Apenas os enjoos nos 3 primeiros meses e as
dores nas costas e
nas pernas
que me acompanharam até o final da gestação.
Eu fazia um
tratamento com reumatologista para espondiloartrite, doença que
me fazia sentir dores
nas costas
e na região pélvica (sacroileíte e sinfisite púbica) desde que
Giovana tinha uns 2 meses.
Mas com a
descoberta da gravidez, tive que suspender a medicação e prosseguir apenas
com a
fisioterapia e
o RPG.
Logo no início
da gestação, pensei que não ia ter coragem suficiente para enfrentar um
parto normal
depois de
duas cesáreas (VBA2C). Não só pelos riscos associados ao parto,
mas principalmente
pela questão
psicológica. Eu já havia me frustrado nas duas gestações anteriores que
terminaram em
cesárea.
Então, marquei as primeiras consultas de pré-natal com um obstetra (GO)
cesarista.
Com 16
semanas, descobrimos o sexo do bebê: um meninão! Que surpresa pra mim! Deus
estava
nos mandando
o nosso JOÃO PEDRO!
Aos
pouquinhos, o desejo pelo parto normal voltou a crescer dentro de mim. A
participação na lista
de discussão
ISHTAR foi primordial na busca pelo meu VBA2C, assim como a leitura de relatos
de
partos naturais
após duas cesáreas.
Nesse meio
tempo, comentei com o GO sobre VBACs. Ele quis fazer terrorismo: “o
risco de
ruptura uterina
é muito grande!”, não só falou como escreveu um percentual na folha sobre a
mesa:
“70%. Você
vai querer correr esse risco?”. Bem, eu já havia lido em várias pesquisas que o
risco de
ruptura uterina
após duas cesáreas variava de 1 a 3,6% (3,6% no caso de intervalos entre os
partos
ser menor
que 18 meses, e o meu seria de exatamente 18 meses). Então, esse comentário
dele foi
preponderante para
que eu tomasse a decisão de não voltar mais lá naquele médico desinformado e
terrorista.
Mas, onde
encontrar um GO que topasse assistir meu VBA2C? Liguei pra parteira
que iria me
acompanhar no
parto da Giovana. Ela disse que viajaria em dezembro, próximo à data
prevista para
o meu
parto, e que não poderia me assistir.
Obtive
algumas indicações de obstetras na lista de discussão. Optei por ir a duas
delas.
A primeira
me pareceu bastante humanizada, tinha um limite alto, disse que teria
assistido meu
parto pélvico.
Mas, ela tinha um jeito meio alternativo que não combinava com meu
jeito racional
de ser.
Alguns comentários que ela fez me traziam uma ideia de “culpa” que eu não
queria para
mim. Por
exemplo, quando eu comentei que Maria Clara havia nascido de 33 semanas, ela
questionou:
“mas que pressa era essa que você tinha dela nascer logo?”. Quando falei que
Giovana
havia permanecido
sentada até o final da gravidez, ela perguntou que problemas mal resolvidos eu
tinha que
impediam que ela virasse... A consulta demorou uma hora e meia, foi como se
eu tivesse
saído de
uma terapia com psicóloga. Ela também disse que viajaria no final do ano, que
se eu fosse
continuar com
ela, para que tivesse um plano B caso o bebê não nascesse até as 41 semanas.
Fui então
me consultar com a segunda médica, dra Rachel. Gostei do jeito dela
logo de cara. Gentil,
educada,
atenciosa, prática e objetiva. Ouviu com emoção meus relatos de parto e fez
comentários
que me
fizeram sentir segura e confiante. Enfim, eu havia encontrado a GO que iria
me acompanhar
no meu
VBA2C.
Recebi a
indicação de uma doula para me acompanhar no parto: Rafaela. Um amor de pessoa!
Por
conta da espondiloartrite e
da inflamação no ciático, eu sabia que teria um trabalho de parto com
muita dor
nas costas e o fato dela ser também fisioterapeuta me trouxe ainda mais
segurança.
Eu ainda
desejava um parto domiciliar e cheguei a falar com uma parteira que disse que me
assistiria se
a dra. Rachel topasse ficar de sobreaviso. A GO não topou. E meu
marido, Cláudio,
também não
se sentia seguro com o PD.
Então, fui
tratando de espantar meus fantasmas com o parto hospitalar. Meus maiores medos
eram
de que
João Pedro passasse por intervenções desnecessárias no hospital e de que eu não
pudesse ter
contato físico
com ele no momento em que nascesse, assim como ocorreu com as meninas. Cheguei
a contactar um
pediatra humanizado, para receber João Pedro e fazer os primeiros procedimentos
na
minha presença,
mas ele não aceitou fazer parte da equipe...
Escrevi um
Plano de Parto grifando esse meu desejo que pegar João Pedro no colo assim que
ele
nascesse e
pedindo para que ele não fosse aspirado sem necessidade, nem passasse por
qualquer
intervenção médica
sem o meu conhecimento ou do pai. E pedi muito a Deus para que abençoasse e
desse um
nascimento saudável e feliz para João Pedro.
Também pedi
a intercessão de Nossa Senhora e do Pe. Henri Caffarel para que
meu desejo pelo
parto normal
se realizasse. E, na minha ousadia, pedi que João Pedro nascesse no dia
08 de
Dezembro,
dia dedicado à Nossa Senhora da Imaculada Conceição, da qual sou
devota.
Durante a
gestação tive que trabalhar muitos medos. Em especial os medos das vivências
dos partos
anteriores.
Medo de bebê prematuro, medo de bebê pélvico. Medo de tantas outras coisas que
eu
nem sabia
que existiam... Aos poucos, o tempo foi passando e os medos ficando para trás.
Especialmente às
custas de muita leitura e informação. Com 33 semanas fiz a última ecografia
gestacional que
mostrou que João Pedro estava cefálico e muito saudável.
Com 35
semanas, comecei a sentir umas contrações ritmadas e doloridas. Era um falso
trabalho de
parto.
Pródromos que anunciavam que meu corpo estava trabalhando para o parto normal.
Senti que
era hora
de diminuir o ritmo. Parei de trabalhar e de fazer esforço físico. Com 38
semanas mais um
falso TP.
Chegaram as
39 semanas. Meu maior medo agora era de desistir do parto normal antes mesmo de
entrar em
TP. Principalmente pela proximidade do meu aniversário e do Natal. E pelo fato
de eu ser
muito ansiosa.
Meu desejo para que João Pedro nascesse no dia 08/12 só aumentava.
No dia
07/12, fui com Cláudio aos bancos na parte da manhã. Eu estava sentindo muita
dor na
coluna e
nas pernas, praticamente me arrastando pra conseguir caminhar.
Foi a primeira vez na
gestação que
a espondiloartrite se tornou quase que insuportável pra mim, também
porque eu estava
me sentindo
meio fragilizada. Voltei pra casa chorando de dor. Descansei e a dor aliviou.
Conscientemente
ou não, comecei a me despedir da barriga. Dispensei a secretária mais
cedo, dei
uma namorada
com o maridão, fui fazer as unhas, comprar algumas coisas pra casa, lanche,
farmácia,
recarregar os créditos do celular... Depois de um dia cansativo, à noite eu
comecei a sentir
contrações doloridas
a cada 8 a 10 minutos. A princípio achei que fossem os pródromos. Mas já era
o trabalho
de parto se iniciando.
Ainda à
noite, as contrações vinham a cada 3 a 4 minutos. Para ter certeza de que não
era um falso
TP,
fui tomar um banho e deitar. O ritmo das contrações passou a ser de 10 a
12 minutos. Então
resolvi esperar.
Cláudio
achou melhor levar as meninas pra casa da minha mãe, assim, se o TP
engrenasse, não
precisaria sair
com elas apressadamente no meio da madrugada. E eu ainda estava na dúvida se
estava em
TP ativo ou não.
Fui dormir,
mas continuei cronometrando as contrações no meio da noite, sempre em torno
de 10
minutos de
intervalo. Às 5 da manhã resolvi levantar. Era hora de decidir, ir para o hospital
ou não?
Afinal, se
eu esperasse amanhecer, poderia pegar trânsito, assim como no TP da Giovana –
olha os
medos ressurgindo.
O ritmo das
contrações aumentou e enfim me toquei que estava realmente em trabalho de parto
ativo.
Liguei pra médica e pra doula avisando que estava indo para o hospital.
Eram 05h45
quando saímos de casa. As contrações estavam regulares a cada 3 minutos. No
caminho elas
chegaram a vir de minuto em minuto. As dores apertaram. Vomitei algumas vezes.
Cláudio
começou a me perguntar sobre o caminho para chegar ao hospital. Eu não queria
responder,
falava “não
sei”, “acho que é”...
Lembrei
de alguns relatos de parto que falavam sobre emitir mantras ou sons
guturais pra ajudar a
suportar a
dor. Eu não tinha nenhum mantra... Pensei em cantar. Lembrei que era dia de
Nossa
Senhora da
Imaculada Conceição, mas as músicas da Imaculada não me inspiravam naquele
momento.
Então comecei a cantar devagar e repetidamente um refrão antigo, da Virgem de
Fátima:
“Ave, Ave,
Ave Maria. Ave, Ave, Ave Maria”. Esse foi meu mantra até chegar ao hospital. E
foi
uma excelente
ajuda!
Na chegada
ao hospital, senti ainda mais dor. Mal consegui caminhar até a recepção.
Agachei no
chão enquanto
Cláudio ia estacionar o carro. Fui para a sala de triagem. Tive a serenidade
para
grampear meu
Plano de Parto junto com meu Cartão de Pré-natal. Era muito importante pra mim
que a
equipe médica soubesse dos meus desejos para o parto.
Todos se
espantavam quando eu dizia que queria o parto normal após duas cesáreas. Ainda
mais
num hospital
onde mais de 90% dos partos são cesáreas.
A médica de
plantão me examinou e disse: 8 pra 9 centímetros de dilatação. Eu
disse: “nossa, eu
não esperava
que fosse tão rápido!”. E ela: “mas o bebê ainda está alto”. E eu: “tem alguma
coisa
que eu
possa fazer pra ele descer mais rápido?”. Ela: “tem, caminhar. Mas é melhor
você não fazer
isso,
porque seu bebê pode nascer antes da sua médica chegar”. Então eu pensei: “quem
dera se
fosse assim
tão fácil...”.
A
plantonista conversou com minha médica pelo telefone. Aceitei a cadeira de
rodas para ir pro
centro cirúrgico
(é, lá não tem centro obstétrico). O hospital estava lotado e não havia
apartamento
disponível.
Ainda bem
que na minha mente eu já havia aceitado parir no centro cirúrgico, porque
até poucos
dias minha
ideia era tentar parir no apartamento, quem sabe até debaixo do chuveiro, para
um meiotermo
entre o
parto domiciliar e o hospitalar.
A doula chegou, depois
a GO. Começaram a me preparar e preparar a sala. Parêntese para o grande
diferencial de
uma equipe humanizada. Perguntaram se eu queria usar a camisola do hospital ou a
minha. Se
eu queria ouvir música. Em que posição eu queria ficar, se eu queria me
movimentar.
Diminuíram
a luz e o ar condicionado.
A doula
superou todas as minhas expectativas! Fez massagem nas minhas costas o tempo
todo, deu
apoio,
respirou comigo, colocou música suave, relembrou as minhas preferências, sugeriu
posições...
A médica
também foi maravilhosa, respeitou minhas preferências e me questionou o
tempo todo
sobre os
procedimentos. As poucas intervenções que houveram foram solicitadas e/ou
aprovadas
por mim.
Em
determinado momento, perguntaram se eu estava com vontade de fazer força. “Sim,
não, não
sei, acho
que não”. Difícil saber quando começou o expulsivo... Comecei a fazer força
junto com as
contrações pra
ajudar o bebê a descer. Vomitei, fiz nº 1 e 2.
Eu pedi pra
doula a banqueta de parto. Eu achava que iria parir na banqueta. Sempre achei.
Mas era
cansativo ficar
numa mesma posição e a todo momento eu era estimulada a me movimentar.
Sinceramente,
a dor das contrações não foi o que mais me incomodou. De certa forma eu estava
preparada para
ela. O que pegou para mim foi o cansaço na hora de fazer força para o bebê
descer.
Eu pedia
ajuda pra que terminasse logo. Caminhei pela sala, fiz exercícios de
agachamento. Fiquei
em posições
que eu nunca havia pensado, como sentar nas pernas do Cláudio de frente pra ele
com
minhas pernas
abertas. Foi muito bom também me pendurar no pescoço dele em pé e
descansar no
peito dele
sentada na banqueta. E João Pedro ia descendo e girando lentamente, enquanto
eu me
movimentava e
fazia força.
A GO então
sugeriu romper a bolsa. Eu questionei se iria doer mais depois disso. Ela
respondeu que
não e
deu algumas explicações sobre o procedimento. Eu aceitei. Então fomos pra maca.
Foi
gostoso sentir
aquele líquido quente escorrendo pelas minhas pernas. E realmente não senti a
dor
aumentar.
Mas ainda
havia muita força a fazer. Acho que fiquei umas duas horas no expulsivo. Certo
momento falei
pra doula: “vontade de desistir...”, e ela me respondeu: “que nada, você está
indo
muito bem”.
Esse comentário me deu um novo ânimo, até porque eu tinha falado meio que da
boca
pra fora.
Em nenhum momento pensei em pedir analgesia, muito menos a cesárea.
Em vista
dos relatos que eu havia lido, eu achava que em determinado momento eu
entraria na
partolândia e
meu estado de consciência mudaria, que eu poderia fazer coisas estranhas,
alheias à
minha vontade,
gritar ou sei lá o quê. Mas nada disso aconteceu. Eu fiquei o tempo todo muito
consciente e
focada no trabalho de parto, nas contrações e nos esforços do expulsivo.
Após várias
mudanças de posição fomos pra maca. Acabei indo para a posição que eu mais
condenava,
de litotomia, com as pernas pra cima, nos estribos; me senti bem assim.
Depois de
algumas forças,
a médica comentou que com um empurrãozinho na minha barriga e uma
episiotomia,
meu bebê nasceria rapidinho, mas que não era isso que a gente queria.
O
pediatra neonatologista de plantão entrou na sala. Pude falar com ele
sobre as minhas
preferências.
Pedi para que, se João Pedro nascesse bem, eu pudesse pegá-lo no colo e
segurar por
alguns minutos,
e que ele não fosse aspirado sem necessidade. Ele concordou. Graças a Deus! Acho
que era
isso que faltava pra que eu deixasse João Pedro nascer.
Meu bebê
coroou e eu pude pegar na cabecinha dele, molinha, e sentir seus cabelos.
Comecei a
prender a
respiração e fazer força por mais tempo. A doula contava lentamente até 10 e eu
fazia
cada vez
mais força... Marido, médica e doula me diziam palavras de incentivo.
E João
Pedro nasceu! Eu pude vê-lo saindo de mim. E ele veio para meus braços de
imediato, todo
melecadinho,
envolto num pano aquecido. Pude sentir o cheirinho do vernix que o
protegia. Ele
cheirou meu
seio e ficou calminho no meu colo. Eu disse a ele o quanto o amava. Muita
emoção!
A médica
esperou o cordão umbilical parar de pulsar e Cláudio cortou o cordão. O
pediatra esperou
pacientemente até
que eu dissesse que ele poderia levar o bebê para a sala de cuidados. Cláudio e
doula, a
meu pedido, acompanharam João Pedro. E ele sofreu pouquíssimas intervenções em
vista
do que
costumam fazer naquele hospital.
A doula
voltou pra me contar, João Pedro havia pesado 4.025g e medido 51,5cm.
Que bebezão! Foi
uma surpresa
pra mim. Ainda bem que eu não havia feito ecografia no final da gestação,
porque eu
poderia ficar
impressionada com esse peso. Por isso, então, que eu precisei fazer tanta força
pra ele
nascer! E
tive uma laceração mediana em Y no períneo, levei muitos pontos. Fora
isso, tudo
perfeito!!!
Enfim, Deus
permitiu que eu tivesse um parto natural, maravilhoso e restaurador,
digno e
respeitoso,
após duas cesáreas, no dia que eu escolhi, 08/12, dia de Nossa Senhora da
Imaculada
Conceição,
sob a proteção dela.
Obrigada
meu Deus por esse momento único e inesquecível!!!
Obrigada a
meu esposo Cláudio, pelo seu apoio e companheirismo!
Obrigada à
equipe maravilhosa, dra Rachel e doula Rafaela, por terem topado
vivenciar essa
experiência comigo,
com extremo profissionalismo e amor pelo que fazem!
E obrigada
a todos os que me apoiaram na conquista do meu VBA2C, em especial
aos participantes
das listas
de discussão Ishtar e Parto Nosso, aos meus familiares e amigos!
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