Relato Petrina, nascimento do Miguel

Relato de partos e cesáreas da Petrina – 
Pedro, Maria Carolina, Isabel, Lívia e Miguel
Em 03 de junho 1991 eu estava quase completando 18 anos de idade quando nasceu o Pedro. Ele nasceu de um parto normal hospitalar com todos as intervenções a que eu tinha direito e as que eu não tinha. Eu não tinha empoderamento algum, mas tive muita tranqüilidade para esperar as contrações de 5 em 5 mim para ir para o consultório da GO. Lembro bem da fala dela: Petrina, você aqui, assim? Já está nascendo, vamos para a maternidade agora!
No dia 01 de julho 1994 nasceu a Maria Carolina. Eu já estava na maternidade, sem dores, pressão normal, a mesma médica de antes. Eu fui para a maternidade por intuição. Acordei as 4hs da manha, um frio de trincar, eu queria correr para a maternidade sem nenhum sinal de trabalho de parto. Liguei para a médica e ela foi pra la. Ela acompanhava as contrações com a dinâmica. Se me lembro bem ela disse que já tinha 7cm de dilatação, ela disse que eu teria um parto sem dor; daí há pouco  ela resolveu romper a bolsa. No que a médica rompeu a bolsa o sangue começou a sair intensamente, a contração vinha e o sangue jorrava, um verdadeiro filme de terror sem exageros. A médica me disse que faria uma cesárea urgente pois a hemorragia estava intensa. Eu me lembro de chegar ao bloco cirúrgico, receber a peridural, lembro de ver as enfermeiras puxando o sangue a rodo. Lembro de deitar e gritar de dor. Nada mais. Eu estava tendo um descolamento total de placenta. A minha filha foi para o CTI e veio a falecer 27 dias após seu nascimento. No dia 28 de julho, no dia de meu aniversario, estava indo embora minha princesinha. A médica disse que eu tive parada cardíaca e a dor que eu me lembro de sentir foi porque ela não esperou a anestesia pegar direito. Quando eu gritei de dor ela já tinha iniciado a cirurgia.
Parto normal pra mim tinha se tornado sinônimo de morte. Gravidez significava que a mulher estava com um pé na cova e outro fora. La estava eu, com os peitos inflamados, a barriga com duas cirurgias em 15 dias, ah! esqueci de dizer que tive infecção hospitalar.  Segundo a comissão de infecção do hospital, o exame deu que a infecção se deu por falta de sangue para combater bactérias da minha própria pele. Eu também não tinha forças para questionar o motivo da infecção. Minhas pernas pareciam pernas de elefante de tão gordas...disseram que era por causa da falta de sangue...  se saber! Eu só queria minha filha o resto era resto.
Segundo a médica, ela “rasgou” meu útero de qualquer jeito, pois ela tinha pressa. Então que eu tomasse anti-concepcional pois eu não poderia de forma alguma engravidar num espaço pequeno de tempo. Acredite quem quiser acreditar. Em 1996 estava grávida novamente com o uso de microvlar e naquela época disseram que tinha um lote de comprimidos falsos,  feitos com farinha, não me lembro ao certo. O certo foi que a Isabel nasceu de uma cesárea antecipada, de 36-37 semanas.  Você acha mesmo que eu questionei tempo de gestação? Gente, aquela cesárea, naquele momento soava como uma sonata de amor. Eu teria minha filha nos braços agora e não daria chances para o azar me tira-la de mim. Eu, não tinha forças nenhuma para topar um parto normal. Eu não queria outra tragédia. Eu odiava com todas as minhas entranhas a hipótese de ter novamente um parto normal.
Coloquei o DIU. Fiquei 7 anos sem engravidar.
Separei. Divorciei. Voltei a namorar, casei novamente... outra vida, completamente diferente. Brinco que até a cor de pele do marido eu quis diferente.
A Isabel já estava com 12 anos quando eu engravidei novamente.
Tinha se passado praticamente 15 anos da morte da Maria Carolina. A dor estava la no coração, mexendo e remexendo no passado. Alguma coisa me dizia que eu podia ter um parto normal. Mas e agora? Eu já tinha duas cesáreas, como poder ter um parto normal? Estava fazendo pré-natal com a mesma medica de 17 anos atrás. Eu perguntava a ela sobre parto e ela dizia que não havia porquê falar de parto no pré-natal. Comecei a procurar, por intuição mesmo se tinha alguma possibilidade de uma mulher ter parto normal após cesáreas. Fui em oito ginecologistas diferentes. Sempre por indicação: fulano é ótimo, beltrano é excelente. Ninguém topava a idéia de um parto normal. Continuei o pré-natal com a Dra Lu até que ela me disse, eu com 35 semanas da Lívia que semana que vem faríamos a cesárea conforme o resultado de um ultrassom. Ela queria saber se os pulmões da neném estariam bem. Eu disse que não iria. Não sei de onde tirei forças pra isso. Nunca tinha ouvido falar de VBAC ou parto humanizado, doula, parteira, parto domiciliar... Não fui para a maternidade. Detalhe: a médica foi! Ela me ligou e eu disse que não iria pois eu havia dito que não iria...
Comecei a buscar na internet tudo sobre parto após cesárea. Encontrei um gineco aqui em BH que disse que fulana tinha conseguido um VBA2C, ela tinha saído da Bahia para ser assistida por ele aqui em BH... beltrana também tinha conseguido com a assistência dele... poxa vida! Descobri que na favela próxima a minha casa tem uma maternidade do SUS que tem casa de parto. Tudo perfeito! Exceto a favela, claro sem querer entrar na questão social da coisa... Afinal de contas meu plano de saúde pagaria um Vila da Serra, hotel 5 estrelas, quis dizer hospital 5 estrelas, oh! Hospital não se classifica com estrelas... Eu tinha acabado de ganhar na loteria! Na reta final, trocar de gineco e mais: existe tudo o que eu imaginava existir.
Em março de 2010 uma colega da lista Partonosso, a Joana, postou uma frase em seu relato dizendo que ela havia confiado demais em seu ginecologista. Joana, faço das suas, as minhas palavras. No dia 23 de maio de 2008, eu tinha consulta marcada eu já estava com um mal estar danado, aquela murrinha de inicio de trabalho de parto, 3-4cm de dilatação, já no consultório do tal “doutor bacana”. Ele disse que precisava conversar serio comigo, eu sabia de tudo o que ele acreditava e fazia, estava com 39 semanas, mas infelizmente, o útero estava muito fino – 1,6mm pelo US então ele sugeria a cesárea naquele dia pois eu já iria engrenar um TP nas próximas horas muito provavelmente. Na verdade, a minha maior mágoa foi do terrorismo básico: você já perdeu uma filha, isso lhe deixa mais sensível, não precisamos arriscar mais, você já passou das 39 semanas, com certeza a bebê está bem, no US ela já está com 3,7 kg, vai ser melhor pra você... A babaca aqui não questionou nada. Eu não fiz nada. Eu só chorava, chorava, chorava mas fui para a maternidade assim mesmo. La estava eu ganhando a terceira cesárea. Ainda volto na questão “doutor bacana”.
Em novembro de 2009 estava eu amamentando a Lívia, já uma bezerrinha, quando meu filho de 19 anos me deu um beijo e despediu dizendo que iria para o colégio. Ele havia acabado de tomar banho e passar o perfume que eu tanto gosto... Naquele instante meu estômago deu umas reviravoltas, meu almoço voltou, eu estava eu com aquela sensação: “já senti isso antes”. Imediatamente disse ao meu esposo: “amor, to grávida”. Meu negão ficou branco. Como assim?
Dito e feito: estava eu grávida novamente.
Pra ser bem sincera eu nem pensei em parto normal, afinal de contas um vba2c não tinha acontecido o que diria um vba3c. Contei para a Rebeca que estava grávida. Ela disse que dessa vez ia dar certo pois ela não me abandonaria nunca. Eu fiz meio atônita com a idéia, mas gostei bem da hipótese de tentar. Ela então me indicou a Odete, e para meu espanto ela disse que ela tinha um vba7c. Sete? Imediatamente eu liguei para essa tal Odete. Marquei encontro com ela e contei minha historia e meus anseios para essa nova gravidez e parto. De verdade eu achei que ela não fosse me acompanhar até o final da gravidez pois ela muito se falou (ainda que carinhosamente) de obesidade gestacional, peso fetal e diabetes em relação obviamente ao VBA3C. Isso tudo me pareceu um verdadeiro obstáculo poismeus filhos foram gordinhos, eu já estava acima do peso e eu sou filha e sobrinha de vários diabéticos. Diabetes em minha família já fez amputação de membros inferiores e superiores em três primos.
Resolvi encarar assim mesmo. Fiz uma dieta radical, a Odete foi me acompanhando e vendo que estava tudo dando certinho. Nesse meio tempo eu fazia pré-natal com o Dr. João e com o dr Lucas. Eu fiz isso para aumentar minhas chances de ter um plantonista que me conhecesse no Sofia. Até que eu vi que isso já era neura. Com todo respeito ao dr. João optei por ficar somente com o dr Lucas, afinal de contas já tínhamos construído um histórico gineco/obstétrico que me deixava mais segura. Ele conhecia meu útero de verdade!
Já com 26 semanas de gestação fiz um curso preparatório para o parto normal.
Sabe aquele jargão: “bonitinho mas ordinário”? O curso foi lindo! Foi cor de rosa! Meu esposo  entendeu o porque tantas mulheres desejam um parto domiciliar. Ele viu importância em se ter doula, etc e tal. Mas pra mim o curso ficou entalado na garganta. Vou explicar melhor. Falou se muito da importância pegar o bebê em seus braços no momento do nascimento. Falou se da música que você gostou de ouvir na gravidez. Se for normal agente pode colocar a música, mas se for cesárea a gente também coloca. A gente pode colocar uma meia luz se for normal, mas se for cesárea a gente também coloca, há como se fazer uma cesárea humanizada...  Eu fiquei com essas frases, e outras na cabeça. Se for normal dá mas se for cesárea também dá. Então pra que ser normal, não é mesmo? Eu percebi que todos os profissionais da saúde que estavam ali, estavam apoiando o parto normal mas me pareceu que não tinham muita restrição à cesárea.  Foi então que eu questionei  se o meu ginecologista pertencia a esse grupo e se ele concordava com aquelas colocações. Eu descobri que eu não preciso de um curso ou de acompanhamento em prol do parto normal, eu quero alguém contra cesáreas. Foi aí que eu  digo que o curso deu efeito colateral. Por favor, não estou criticando o curso como um todo, estou somente colocando como ele chegou até mim. Acredito que tenha sido de muita valia para muita gente, assim como o foi para meu esposo. Chegando em casa chorei tanto, até dormir, chorei o dia seguinte, liguei para a doula, liguei para a parteira. Só consegui falar com  a parteira. Coitada, ela ficou desesperada sem saber o que estava acontecendo. Então eu expliquei o ocorrido no curso e disse: Odete, eu não quero ir para maternidade alguma, eu não posso ir. O nosso ginecologista é da mesma turma deles. São muito bonitinhos, muito organizadinhos, muito a favor do parto normal, a favor demais,  mas a cesárea também serve. (Fica aqui, de antemão meu pedido de desculpas para quem eu julguei erroneamente).
A idéia de parto domiciliar nunca tinha sido meu plano A. Afinal de contas, 3 cesáreas prévias, a bomba relógio que eu havia me tornado diante de todos os médicos humanizados ou não, parto em casa era quase que um homicídio e um suicídio. Só que agora, meu sexto e sétimo e oitavo sentido me diziam que se eu parasse em uma maternidade, a cesárea seria certa.
A Odete veio conversar comigo na segunda-feira seguinte ao curso. Ela me garantiu que ficaremos em casa enquanto ela ver que poderemos ficar. (Hoje eu sei que ela disse isso para me acalmar, pois conversamos posteriormente sobre o assunto). Estava me sentido um bicho do mato, acuado, com medo de hospital e pior: com pavor de médico.
Quando Ana Cris escreveu sobre o medo ela também disse que o útero é lugar mais seguro para o bebê. Pois é, eu achava que o gineco deveria ser o profissional mais seguro para a mulher gestante e agora bate esse verdadeiro pavor de médicos.
A partir de agora então o parto domiciliar passou a ser o plano A. Vou lhe ser sincera, não porque eu o tivesse planejado, mas por não querer em hipótese alguma mais uma cesárea. Parto pra mim tinha se tornado OPORTUNIDADE de vida. A oportunidade é única, não posso perdê-la e eu não vou fazer o que eu fiz na outra gestação: eu não vou confiar em quem sabe e pode fazer cesárea.
Com 35-36 semanas ao fazer um US solicitado pelo ginecologista, verificamos que o Miguel estava pélvico. Meu Deus, eu chorei tanto que não me agüentava. Isso foi doeu como uma punhalada pois eu já havia me preparado para enfrentar os desafios de um vbac3, mas; pélvico? Isso era demais pra mim. Liguei para a Odete, minha parteira. Ela não hesitou em vir para minha casa. Ela ficou a tarde toda em minha casa, ficou até anoitecer. Ela perguntou se podia trazer uma amiga chamada Isabel, que também é doula, que trabalha com energia dos minerais e eu disse que não haveria problemas. Odete fez massagens em meus pés, me deitou em minha cama com as pernas pra cima, apoiadas na parede e com o bumbum em cima de algumas almofadas... Daí rezamos, meditamos, relaxei bastante, conversamos sobre que motivos poderiam ter sido favoráveis ao Miguel adotar aquela posição... Ela fez uma massagem bem de leve em minha barriga, quase um carinho somente mas como quem direcionava o bebe na posição cefálica. Confesso que perdi a noção do tempo mas creio que após umas duas horas de massagens ela ouviu com o sonar o coraçãozinho dele bem abaixo do meu umbigo. Tudo nos levava a crer que ele havia virado para a posição cefálica.  Elas foram embora já era noite.
Uma semana se passou e um belo dia a Petrina super ansiosa, racional, matemática, impulsiva resolveu fazer um US para saber a posição do bebê. Eu me sentia diferente, na verdade eu sentia que os cutucões do bebe estavam diferentes. Fiz um US por minha conta, sem pedido médico e sem o médico saber. Resultado: Miguel estava cefálico mesmo. Meu Deus, dia 31 de maio de 2010 foi um dos dias mais felizes de minha vida.  Conversava muito com uma amiga virtual, a Socorro, lembro bem dela dizer: amiga, comemore essa data como se comemora uma grande festa. Agora voltava a minha cabeça toda a possibilidade de ter meu sonho realizado. Não que um bebe pélvico fosse indicação de cesárea, mas naquela fala de ser protagonista da minha historia não estava inserida a idéia de parto pélvico. Eu nunca me imaginei tendo bebes pélvicos e também não queria tê-lo dessa forma. Daí tamanha ansiedade. O fantasma da cabeça derradeira me fazia voltar o fantasma da morte de minha segunda filha no descolamento total da placenta. Quase ninguém soube dessa história, digo quase ninguém pois dividi isso com poucas pessoas da lista Parto Nosso mas sempre em pvt, entre elas Larissa e Gisele, a Ana Cris, a Socorro, a Leticia, as Carol(s) e a Walesca; essas souberam que o Miguel já estava cefálico. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, eu só sabia que eu tinha começado um processo de recolhimento. Não sei classificar isso, um meio termo entre fuga de energias negativas, pessoas em desarmonia, mas interpretações, opiniões que eu não queria ouvir, eu praticamente só me contactava com minha parteira amada. Nem mãe, nem medico, nem doula, nem amigas, nem parentes, ninguém...  Minto. Confiei muito em uma pessoa conhecida da internet mas desconhecida pessoalmente, minha irmã de net – a Socorro.
Fui ao consultório do dr. Lucas dia 01/06/2010 pois as minhas dores estavam me incomodando demais. Estava tomado buscopan de 6 em 6 horas e olhe la se esse intervalo não é menor. Estava com 2 cm de dilatação. Estava feliz por esse lado. Sentia como se já tivesse marcado cabelo e unha no salão com minha cabeleireira e manicure preferidas, meu corpo começara a se aprontar para a festa! Por outro lado o dr. Lucas me avisou que estava com o mês todo de junho marcado com cursos pelo Ministério da Saúde parece que em parceria com o dr. João Marinho. Ele estará em Belo Horizonte somente nos finais de semana 12 e 19. Mais um desafio... estava eu sem ginecologista. Conversamos mais de uma hora para tentarmos um plano B pois mesmo no Sofia Feldman que é uma instituição a favor do parto normal, uma parturiente com 3 cesáreas previas não é permitido um parto normal. Ele tinha protocolos a obedecer. Eu disse a ele que se eu entrasse em trabalho de parto e ele não estivesse em BH eu mentiria, lembrei-me da Larissa. Na verdade contaria que tive 2partos normais, que de tudo não era mentira e apenas uma cesárea. Assim eu teria pelo menos a chance de ter meu vba3c. Vocês deveriam ver a cara dele. Não é de rir, mas agora eu posso... Mais ou menos assim: o que eu vou fazer com essa mulher louca varrida? Dr. Lucas, ca pra nós, acho que você desejou se ver livre de mim várias vezes. Mas eu não tinha outra opção, se você não topasse ninguém mais ia fazê-lo. Então eu pedi que se ele não estivesse em BH que eu chegaria no Sofia e ele daria as instruções para que o medico plantonista me deixasse “em paz” com a parteira.
Ele me pediu encarecidamente que não tentasse um parto domiciliar, engraçado que eu nunca havia comentado com ele essa hipótesemas ele tinha tanta certeza da minha decisão que ele sabia que eu seria “louca” o bastante para tentar um VBA3C em casa. Segundo ele seria arriscar demais. Um risco desnecessário para mim, para meu bebe,  para meus filhos e para meu esposo. Isso foi falado bem olhando nos olhos. Isso mexeu comigo.
Dia 05 de junho, fui a uma festinha de aniversário do filho de uma amiga. Saí de la suando frio de tão intensas que as contrações estavam. Não comentei nada com ninguém, mas deixei ver se tais contrações ganhariam algum ritmo. Nada de ritmo!
Daí em diante quase toda noite as contrações viam quase a madrugada toda. Na segunda quinzena eu estava com contrações de 5 em 5 min só de madrugada. O dia começava a clarear e elas iam dormir. Estava com 38 semanas completas quando tive vontade de jogar a toalha e ir para qualquer hospital fazer uma cesárea. Liguei aos prantos para Rebeca e disse que eu não agüentava mais, eu não suportava mais sentir tanta dor, dor nas costas, dor nos quadris, no assoalho pélvico e agora eu estava com a garganta inflamada e já estava com otite. Acho que o frio das madrugadas contribuiu para esse fim.  Tomei antibiótico por 7 dias. Não sei o que isso teve a vermas aliviou um pouquinho as dores em meu quadril.
Domingo, dia 27 eu pedi meu esposo que me levasse a igreja Nossa Senhora das Graças. Eu implorei a Jesus e Maria que me colocasse em trabalho de parto. Eu tinha muito medo ainda que o Miguel nascesse no mesmo dia da Maria Carolina, no dia 01 de julho.
Assim se fez, na segunda a noite as contrações vieram, como de costume, o dia clareou e elas continuaram, optei por não marcar intervalo de tempo pois eu já estava cansada disso. Algo estava diferente, tinha sol e contrações! Será que ia engrenar? Eu tinha esperanças que sim. Eu tinha estado em pródomos durante 24 dias!
Amanheceu o dia 28 e eu percebi que havia expelido uma boa parte do tampão mucoso, bem diferente daquele do Pedro (19 anos atrás), esse era em maior em volume e em espessura, como se fosse uma gelatina mais mole, claro, com algumas rajadas de sangue.
Brasil jogava com o Chile, resolvi avisar a Odete, a parteira, que eu tinha tido umas contrações de dia. Avisei também as doulas: a Polly e a Rebeca. Quando elas chegaram já era noite. Eu não sei quando é que se marca o inicio de um TP, mas eu diria que la pelas 21hs eu tinha certeza que tinha engrenado. Eu sabia disso mas não quis dizer, pois eu queria ficar mais tempo em casa apesar de saber da vontade e orientação da Odete. Enquanto eu consegui ficar de cara boa ficamos em casa até que eu virei para a Odete e disse que queria ir para a maternidade. Nesse meio tempo ela já sabia que o dr Lucas estava no Sofia. Graças a Deus, o Miguel escolheu nascer exatamente no dia que o dr Lucas estava em BH. Eu nem acreditei.
Aqui eu abro um parênteses: PD seria impossível! A Lívia dois anos de idade pedindo colinho, o Pedro e a Bebel perguntando como eu estava... PD sem chances!!! Nem se eu quisesse!
Fomos para o Sofia Feldman, as contrações já estavam começando a me incomodar.
Chegamos la era aproximadamente 1 da manha. Eu fui admitida pelo dr Hemmerson e eu já estava com 6 cm de dilatação foi a primeira vez que ouvi a Odete dizer que eu estava em fase ativa. Assinamos, eu e meu esposo um termo de responsabilidade, e mui carinhosamente o dr Hemmerson disse: não lê isso não, bobagem, isso é só protocolo, vai dar tudo certo! Você já está em fase ativa, já esta com 6 cm e isso é muito bom, tente se concentrar em você e em seu corpo, tente não ouvir o que é dito nos outros biombos da maternidade. Concentre em você.
Eu deveria ter dado maior atenção a essa fala.
De cara mais um obstáculo, o moço da recepção disse que só entraria uma pessoa comigo, ou marido, ou doula ou parteira. Nem sei quem autorizou a entrada de todos, acho que foi o Hemmerson. Obrigada! Essa escolha seria impossível pra mim.
Logo a Polly já me mandou para o chuveiro.
Estou me esquecendo de dizer que toda hora minha Anja, assim que chamo minha parteira, vinha com o sonar para ouvir o coração do Miguel. Até debaixo do chuveiro. O que mais tem é foto dela ouvindo o coraçãozinho do Miguel.
Fiquei um tempão ali. A Polly sempre me massageando a cada contração. Ela foi um doce. Senti um ploct na bola de pilates. Ploct? Perguntou a Odete. Miguel está fazendo bolinha de chicletes? Como estava debaixo do chuveiro ficou mais difícil perceber se era realmente a bolsa que havia se rompido. Polly disse ter visto uma água de cor marrom. Até uma hora que comecei a chorar pois as contrações ficaram mais intensas e eu sai um pouco do jato da ducha do chuveiro e deu para perceber claramente que a bolsa havia se rompido. Eu estava começando a perder a concentração. Polly me deu um pedacinho de chocolate, e disse que era um chocolate especial. Eu já estava aos prantos, um mix de alegria e de dor. Odete o tempo todo ouvia o coração do Miguel, tem fotos até desse momento, debaixo do chuveiro.
Odete pediu para me tocar. Voltamos para o Box, ela tocou, estava com 7 cm mas ela não me disse. Isso não foi bom pois eu fantasiei haver algum problema. Eu repetia: está longe ainda dele nascer , não está? Ela dizia que não. Eu repetia que estava longe e que ela estava mentindo pra mim... as contrações cada vez mais fortes e mais freqüentes.
De repente a parturiente no Box ao lado começou a gritar dizendo que ela tinha matado seu bebê. Essa mulher gritava: “Eu matei meu bebe, eu matei ele...” Gente, o pânico se instalou em mim.  Era tudo o que eu não queria e não podia ouvir.
Naquele momento eu enlouqueci. Eu dizia: Polly isso não é pra mim, Odete, isso não é pra mim! Na verdade ninguém ouviu da minha boca que eu queria cesárea, eu sabia que eu não queria cesárea, mas não era pra mim tudo aquilo: perder meu filho não era pra mim, cesárea não era pra mim, aquela dor não era pra mim, aquela mulher gritando não era pra mim, eu perder meu foco também não era pra mim... Eu insistia em chamar o dr Lucas, eu passava a mão na cicatriz das cesáreas e como havia uma camada espessa de gordura eu fantasiei que eu estava estrangulando o bebê como se eu estivesse matando meu bebê. Hora nenhuma me passou na mente a idéia de ruptura uterina, por isso eu tenho tanta certeza que estava na partolândia e minha memória psíquica trouxe o “fantasma da culpa da morte da minha Maria Carolina”... O stress se fez! Nesse momento eu coloquei a Odete e a Polly no circulo de fogo. Sabe o tal circulo de fogo que precede o expulsivo? Mal sabiam elas que elas estavam la comigo.
Odete e Luiz saíram do box como se tivessem ido chamar o dr Lucas. Polly mui carinhosamente me voltou para o chuveiro para que eu não ouvisse aqueles gritos daquela mulher. Polly ate cantou pra mim, eu não vou esquecer isso nunca! Numa das contrações quando ela foi me massagear eu dei um grito com ela: “tira as mãos de mim!
Meu Deus eu tinha me tornado uma cadela pit Bull enfurecida. Polly me perguntou se eu queria que ela saísse do banheiro e eu fiquei calada. Gracinha dela, ela ficou la no canto quietinha.
Chegou um momento que eu definitivamente não agüentava mais. Comecei a chamar meu marido: Tobias, Tobias, vem aqui e nada dele. Tinha sumido todo mundo. Na verdade, hoje eu sei que a Odete tinha ido ajudar a tal mulher, o Luiz tinha ido chamar o dr. Lucas e a Pollyestava no Box (acho!).
Estava disposta a sair andando e não esperar mais o dr Lucas chegar, não é de rir mas seria cômico. Até então eu não tinha molhado meus cabelos, tirei o top, entrei com vontade debaixo do chuveiro, molhei a cabeça, saí de la. Vesti meu roupão e voltei ao box para ver se tinha alguém la. Foi ai que eu disse que queria fazer cocô.  A Odete soltou um “Graças a Deus!
Sabe quando a gente vê uma cena de um lugar que acabou de passou de passar um furacão? Apesar das coisas ainda todas fora do lugar da uma sensação de paz pois simplesmente passou a tempestade! Foi exatamente assim que eu senti. Aquele “Graças a Deus!” soou aos meus ouvidos assim: “nasceu!
Luiz sentou-se na cama, arrumaram a banqueta de parto (da Rebeca!!!) para que eu me sentasse daí veio uma vontade de fazer força incontrolável. Engraçado que eu fiquei tranquilíssima como se ele realmente já tivesse nascido, mas eu ficava pensando agora vem o circulo de fogo, e nada... A Polly havia se tornado então fotografa oficial daquele VBA3C. De repente ouvi um barulho da minha câmera fotográfica descarregando a bateria, bem na hora do expulsivo. Ah!não! eu disse, eu trouxe o cabo do carregador... todos riram de mim! Mesmo assim eu não foto do nascimento.
Fiz três forças e Miguel já estava em meus braços. Não senti dor alguma no expulsivo, não senti circulo de fogo algum, não senti absolutamente nada, nem ele saindo...
O fogo tinha sido antes. Acredito que toda a dor que eu suportaria eu já havia passado por ela, como se eu não suportasse nem mais um pingo.
Miguel nasceu com muito sangue em todo seu corpinho. A bacia que fica abaixo da banquete encheu de sangue. O stress tinha sido muito intenso.
Passou-se uns minutos, não sei o quanto, não muito, 20-30 talvez e a placenta não saída quando vi o dr. Lucas chegando, tranqüilo como de costume, disse que iria me sedar para retirar a placenta. Eu não tinha forças para questionar nada.
Quando acordei ele disse que não era placenta acreta o colo estava fechado e quando eu fui sedada a placenta saiu facilmente.
Logo em seguida tomei um banho sozinha, e pasmem, fui andando para a casa de parto onde fiquei alojada, mais uma atitude impressionante do dr Lucas. Para quem não conhece, a Casa de Parto é um prédio que fica ao lado do hospital Sofia, é pertinho, somente um jardim os separam mas, para quem tinha acabado de parir, aquele trajeto, sair de um hospital, passar pela recepção como quem vai embora, descer alguns degraus de escada, tudo aquilo, aquela caminhada tinha sido “a caminhada” da vitória. Três cesáreas me fizeram dar um imenso valor a tomar um banho sozinha e poder caminhar.
Miguel ficou o tempo todo comigo!
Esse é um relato de uma mulher que batalhou muito, muito mesmo para conseguir parir nesse pais cesarista.
Não quero que o meu pânico aqui relatado seja motivo para nenhuma futura mamãe dizer que parto natural é enlouquecedor, por favor! Eu quero sim, que vocês leiam as entrelinhas que mesmo com todo o pânico que a morte me ofereceu, o de perder meu pai em meus braços aos 10 anos de idade, o de perder uma filha que nascia por via vaginal, o de perder o Miguel numa suposta ruptura uterina, mesmo assim eu ouvi o meu coração e meu instinto de mãe, de leoa,  de mulher e sobretudo de um ser humano que é templo do espírito santo de Deus.
Agradeço infinitamente ao dr Lucas pois ele me mostrou, na primeira consulta dessa gestação que eu podia parir, foi o sim dele que me deu certeza que meu útero não romperia fácil. Ele ainda diz que não fez nada. Realmente, dr Lucas, você não fez nada, você SÓ me respeitou. Você SÓ colocou na maternidade uma mulher com três cesáreas previas prestes a ter parto natural, você SÓ deixou a parteira que eu escolhi fazer o serviço dela, você SÓ respeitou minhas vontades mesmo sendo profundo conhecedor de todos os protocolos. SÓ isso. SÓ ISSO TUDO. À maternidade Sofia Feldman e a todos seus funcionários pelo acolhedor aconchego que me ofereceram. Sem palavras! À minha querida parteira que foi muito corajosa, profissional, guerreira e acima de tudo minha eterna companheira. Sem você Odete nada disso teria acontecido, não acredito que aqui em BH eu encontraria outra parteira que fizesse um décimo do que você fez por mim e para o Miguel, e mais, para toda a historia da obstetrícia desse pais nosso. Minha doula Polly, nossa história começou la em 2008, foi sendo escrita e por suas mãos, pelo seu toque, pelo seu cuidado eu fui capaz de colocar nesse mundo meu filhote sem nenhuma droga. Pela sua perseverança e por sua confiança nesse VBA3C ele aconteceu. Obrigada.
As amigas virtuais: cada parto, cada relato que foi me emponderando, são tantos nomes que ate tenho receio de deixar gente de fora: o da Larissa foi “o point”, Andrea Fangel, Christiane Galante, Gisele, Joana, Carol(s), Letícia (essa é de BH), a luta da Ana (de Uberlândia), o apoio da Ana Cris, da Dra. Melania, da minha querida Walesca, da Ingrid, da Thayssa, da minha querida Socorro, como você me socorreu nos momentos que mais precisei, vocês foram muito importantes nessa história. Houve quem não confiou também, e me disse que eu não conseguiria, a você, muito obrigada também. Talvez seu cutucão foi uma das coisas que me deu mais força para lutar.
Rebeca. Não tenho palavras para expressar o que você significou em todo esse processo. Só posso dizer: Obrigada.
Ao meu amor, meu negão, que superou seus preconceitos de rede particular e SUS que soube me compreender nesse momento impar de nossas vidas. Que agüentou pacientemente todas as minhas queixas de dor durante tanto tempo: obrigada, te amo mais ainda.
Engraçado que quando eu perguntei ao Luiz como ele agüentou firme todo meu stress da partolândia ele respondeu assim: Petrina, você já havia me dito que ia me bater, que ia pedir anestesia, que ia falar de cesárea, mas que era para eu não lhe dar ouvidos, ou só obedeci.
Gostaria de voltar la no médico que iria assistir o VBA2C e que virou cesárea. Eu não disse nome. Agora vou dizer: dr. Lucas. O que mudou nisso? O médico é o mesmo, entre VBA2C e VBA3C esse seria, teoricamente mais arriscado pois a ultima cesárea era mais recente, a parturiente  será que é a mesma? Eu bato na tecla: não delegue seu parto a médico algum. Não que eles não sabem assisti-lo, muito antes pelo contrário, mas é que para eles também é muito complicado sair do sistema, pois se qualquer coisa der errado eles serão extremamente responsabilizados e ouvirão: você sabia que você não podia fazer isso. O meu VBA3C aconteceu porque eu fui protagonista dele. Quando o VBA2C não aconteceu eu fiquei muito chateada com o dr Lucas, e ele sabe disso, mas hoje eu compreendo que não dava para ELE topar sozinho afinal de contas quem teria que parir deveria ser eu.
Agradeço a Deus por ter colocado tanta gente bacana nesse caminho, a anunciação do Anjo Gabriel que foi meu refugio todas as noites, aSamael que me concedeu força, sabedoria e seu magnífico ensinamento.
A todos, muitíssimo obrigada,
Petrina

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  1. Parabéns pela sua história de determinação e superação ! Estou com 13 semanas e tenho duas cesarias , e quero muito ter um parto normal, muito msm, rs. E através dessas experiências como a sua, me dá mais força,e a certeza de que eu posso. Obrigada! Deus abençoe vc e sua família!

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